O LUGAR NAS MARGENS: UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA OBRA DO POETA BAIXADENSE MODUAN MATUS Nas últimas décadas do século XX e neste início de milênio, os estudos literários têm apresentado uma inclinação maior ao diálogo interdisciplinar, à aproximação de disciplinas como a sociologia, a antropologia e à história (esta última, já parceira de longa data). Menciona-se, aqui, uma outra, que vem auxiliando na implementação de discussões importantes, no que diz respeito aos “novos territórios literários”: a geografia. Em especial, destaca-se a geografia humana, que tem como representante mais conhecido o sino-americano Yi-Fu-Tuan. Em seus estudos, esse geógrafo recorre a uma abordagem de inclinação psicológica, para discorrer sobre a distinção entre as noções de espaço e lugar. Ele entende que o lugar é uma área que foi “apropriada afetivamente”, dotada de elementos significativos de um determinado grupo. A problemática da afetividade interfere diretamente na constituição das identidades e das alteridades, envolvendo elementos diversos relativo às religiões, às etnias, aos gêneros, dentre tantos outros. Esses lugares, espaços carregados de tintas identitárias, apresentam-se enquanto territórios, trazendo à discussão questões diversas. Novas formas de convivência e apropriação dos territórios, principalmente com a interferência das fluidas instâncias midiáticas, surgem, desvelando – ou criando - conflitos de abrangências incomensuráveis, apontando também para novas perspectivas de vivência e reflexão da arte. Na literatura, a percepção das transformações pelas quais passam a sociedade contemporânea e os próprios estudos literários, tem propiciado a reflexão sobre o surgimento do que se pode denominar “territorialidades textuais marginais”. O presente trabalho intenta refletir acerca das figurações da(s) marginalidade(s) na obra de um poeta que, com suas atuações, suscita o aprofundamento de estudos e abre caminho para que se pense a respeito do lugar em que habita há mais de cinco décadas: a Baixada Fluminense. Trata-se de Moduan Matus. Da poesia alternativa da década de 1970 - quando escrevia seus poemas em muros e portas de lojas fechadas -, aos saraus em bares e em quintais, na atualidade; Matus, além de um poeta de extensa (mas pouco divulgada) produção, é um pesquisador da cultura baixadense e um ativista cultural. Dos problemas sociais, às festas, aos saraus; as poesias de Moduan, além da qualidade artística e da reflexão crítica sobre seu lugar, articulam discussões bem atuais inerentes às identidades literárias contemporâneas.
Palavras-chave: LUGAR, TERRITÓRIO, MARGINALIDADES, MODUAN MATUS