Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
FIEL, DE JESSÉ ANDARILHO: UM EXERCÍCIO PARA PENSAR A LITERATURA MARGINAL
SILVANA RIBEIRO GILI
A partir da leitura do romance Fiel, de Jessé Andarilho, e de entrevistas e depoimentos concedidos pelo autor, buscarei problematizar a presença (ou ausência) no mercado literário atual de autores advindos de classes socioeconômicas mais baixas, propondo uma reflexão sobre os espaços de criação literárias instituídos por iniciativas de órgãos não-governamentais como são os cursos oferecidos pela Central Única das Favelas – CUFA – e os encontros com autores organizados pela Festa Literária das Periferias – FLUPP. Interessa-nos considerar, para este trabalho, além dos aspectos narrativos do romance, algumas das condições que determinaram o aparecimento dessa obra no mercado, a saber, as condições em que foi escrita e o percurso traçado pelo autor desde a concepção da ideia para o romance até o momento da sua publicação. Dessa forma, busca-se investigar a reciprocidade entre arte e sociedade ao tentar determinar como essa obra se inscreve no contexto sociocultural em que se situa, nesse momento em que a chamada literatura marginal parece encontrar espaço no mercado literário atual. Em 1997, Roberto Schwarz saudou a publicação, pela Cia. das Letras, do romance de Paulo Lins, Cidade de Deus, considerando-o um acontecimento, indicador de novos tempos ao cunhar o termo neofavela, ou seja, a favela “reformada pela guerra entre os traficantes de droga e pela correspondente violência e corrupção da polícia” (SCHWARZ, 1997). Outros títulos, como por exemplo Quarto de Despejo (Ed. Francisco Alves, 1960), de Carolina Maria de Jesus, que também tratam do universo da favela, são bem anteriores a Cidade de Deus. No entanto, a publicação desse segundo, editado por uma editora comercial como a Cia. das Letras com amplo poder de divulgação e distribuição nacional, pode ser considerada um marco na produção de literatura de autores que não advém das classes dominantes. Pode-se dizer, portanto, que as publicações que narram a favela, seus moradores, e o convívio diário com a violência estão presentes no mercado das editoras mainstream há quase vinte anos. É só a partir do século XXI, no entanto, que proliferam as publicações desse gênero. Nem todas aparecem, de imediato, nos catálogos de editoras comerciais, mas pode-se perceber que, a cada ano, mais e mais autores provenientes das periferias dos grandes centros urbanos brasileiros encontram espaço no mercado literário atual. Esse é o caso de Jessé da Silva Dantas, mais conhecido como Jessé Andarilho. Fiel é seu romance de estreia, publicado pela Editora Objetiva em 2014. Assim como Cidade de Deus, o romance trata da violência decorrente dos conflitos entre facções criminosas que dominam as favelas do Rio de Janeiro e policiais, discorrendo sobre o efeito desses conflitos na vida diária dos seus moradores. Pensar essa produção e as representações que traz de um universo muito particular dos grandes centros urbanos brasileiros é pensar as relações entre cultura e sociedade pois, segundo Rejane Pivetta, a literatura chamada marginal “interfere nos processos de produção, recepção e circulação da obra literária, deslocando posições canônicas acerca do conceito, da função e da relação da literatura com a sociedade” (2011).
Palavras-chave: CONTEMPORANEIDADE, INVISIBILIDADES, LITERATURA MARGINAL
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