Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
EFEITOS DO DISCURSO DA PROPAGANDA IMOBILIÁRIA NA CRIAÇÃO DO IDEAL DE COMUNIDADE FECHADA: UMA LEITURA DE "LAS VIUDAS DE LOS JUEVES"
RENATA DORNELES LIMA
Neste trabalho, pretendemos apresentar a obra "Las viudas de los jueves", de Claudia Piñeiro, que se passa em um “barrio cerrado”, na periferia de Buenos Aires, no final da década de 90, período em que se inicia uma forte crise econômica na Argentina. O romance situa-nos em um cenário no qual vive uma classe média em ascensão, que objetiva “apagar” toda relação anterior com a cidade, tornando o "country" uma espécie de micronação. Analisaremos as múltiplas visões dessa vida idealizada a partir da narração da personagem Virgínia, que ora pensa esse projeto de cidade de forma crítica, ora vende a ideia de “bairro ideal” por meio de um discurso que produz o imaginário distintivo desse espaço, diferenciando-o da cidade real e ativando um novo modo de viver a cidade em consonância com projetos arquitetônicos e urbanísticos de construção desse território. Personagem mais crítico e consciente do fracasso de um projeto de urbanização exclusiva, Virgínia é a única personagem feminina que encara de frente a crise econômica e decide trabalhar fora, aceitando, e mesmo procurando, a aproximação e o contato com os moradores da comunidade popular que existe no lado externo de Altos de la Cascada. Constitui-se num personagem bastante problemático. Antes que qualquer outro morador de Altos, realiza para si mesma o fracasso desse modelo de urbanização que produz uma comunidade de iguais a partir de uma radical “mixofobia”. Sua trajetória de mulher independente, em clara dissonância com o modelo assumido pelas demais moradoras, coloca-a no campo das estratégias discursivas do marketing imobiliário, quando decide se tornar corretora de imóveis dedicada apenas à venda de imóveis do próprio Altos. Diante disso, propomo-nos a pensar a descrição do espaço do "country" feita pela personagem narradora na chave das estratégias de criação/produção de uma realidade atrativa através do discurso dos panfletos que buscam vender esse modelo de vida e reforçam o imaginário do medo e a ideia de deterioração da cidade como espaço de interação com os diferentes. Reconhecer na personagem narradora o discurso da propaganda imobiliária permite-nos localizar a tensão interna do personagem problemático. Mapear o uso das metáforas em sua função persuasiva possibilita o reconhecimento do imaginário que leva a expansão desse modelo de urbanização exclusiva e, ao mesmo tempo, a perceber como essas imagens são colocadas em xeque quando usadas por essa corretora de imóveis tão particular que é Virgínia. A venda da imagem de território ideal de moradia reduz-se, no discurso da personagem, à metáfora da busca pelo verde, sem explicitar o motivo verdadeiro da “fuga” para esse novo projeto de moradia: o pânico da cidade fracassada. As análises de Bauman, nas obras "Comunidade" e "Confiança e medo na cidade", bem como a obra "Fobópole", de Marcelo Lopes, serão fundamentais para analisar os verdadeiros motivos dessa nova socialização. Para análise da construção do imaginário mercantilizado do medo, recorreremos à obra "Cidade de Quartzo", de Mike Davis. E, para pensar os usos da metáfora no discurso do marketing imobiliário, nos valeremos dos estudos de Maingueneau e Charaudeau.
Palavras-chave: COMUNIDADE, FRAGMENTAÇÃO SOCIOESPACIAL, IMAGINÁRIO, BAIRRO FECHADO/GATED COMMUNITY
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