Os estudos de gênero unidos aos estudos pós-coloniais buscam refletir os cruzamentos entre a realidade histórica em que acontece a produção de obras literárias das nações que vivenciaram os efeitos da colonização, ao mesmo ponto em que tomam como viés de análise a representação da participação feminina. Nesse sentido, elegendo como objetos de estudo os romances O mundo se despedaça (1958), de Chinua Achebe, e Americanah (2013), de Chimamanda Ngozi Adichie, este trabalho tem como objetivo analisar a representação da figura feminina frente às relações de trabalho, levando em consideração a diferença entre as vozes literárias de ambos os escritores nigerianos, por meio da análise dos contextos histórico e literário que circundam e entrelaçam estas narrativas. Constatou-se que transformações decorrentes do processo colonial são responsáveis pela formação de uma identidade híbrida, centrada no entre-lugar, assim, buscou-se observar de que forma os conceitos de gênero, identidade, diáspora e pós-colonialismo são figurados nos textos literários, a partir das reflexões críticas de Gayatri Spivak, Homi Bhabha, e Frantz Fanon. Sob tais aspectos, observou-se, ainda, que as relações de gênero influenciam na designação e participação do trabalho feminino nos clãs Igbos, em O mundo se despedaça, principalmente no que se refere aos tratos sociais díspares de poder entre homens e mulheres, decorrentes dos valores culturais e locais, e que mais tarde, devido à colonização, sofreram mudanças. Já em Americanah, as relações de gênero e trabalho situam-se no contexto pós-colonial e trazem a personagem feminina para uma conjuntura diaspórica, visto que a etnia Igbo, outrora caracterizada por uma tradição de imposição dos lugares femininos e masculinos na sociedade, sofre modificações de gênero com a chegada dos europeus, causando um desencontro entre as tradições culturais da Nigéria pré e pós-colonial. A razão pela qual se objetiva estudar os romances aqui apresentados, justifica-se no fato de que essas obras transplantam períodos cruciais da história Nigeriana; história e literatura se cruzam, mesmo que em períodos distintos, pois ambos os escritores narram o material local da Nigéria e as transformações decorrentes da colonização, descrevendo estações importantes e primordiais da história e cultura nigerianas antes e depois do período colonial. Além do mais, O mundo se despedaça e Americanah são obras que representam, respectivamente, a importância do discurso literário de Chinua Achebe e Chimamanda Ngozi Adichie. A escolha do diálogo entre os escritores em questão justificou-se, primeiramente, pelo fato de regerem um olhar aguçado à realidade de sua nação – Nigéria –, além, é claro, do trato representativo para com as personagens femininas, visto que as obras ressaltam e revelam as transformações pelas quais passaram as mulheres durante os períodos que marcam as obras.
Palavras-chave: ESTUDOS DE GÊNERO, PÓS-COLONIALISMO, IDENTIDADE, TRABALHO