Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
JOGO DE ESPELHOS: AVALOVARA E ALICES, REFLEXOS INTERTEXTUAIS
MARIA ARACY BONFIM
Sondar o inegável jogo de espelhos nas obras Avalovara, de Osman Lins e Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá, de Lewis Carroll constitui o motivo dessa comunicação, ilustrar a importância da simbologia do espelho colhida nas duas obras. Para além da do reflexo, função primeira do espelho, mescla-se aí o próprio jogo intertextual que engendro num jogo metafórico. O espelho desempenha diferentes papeis nos enredos dessas obras. Se por um lado, o espelho Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá é um portal, equivalente em Aventuras de Alice no país das maravilhas à toca do coelho (materializações de aberturas oníricas), por outro, em Avalovara, a imagem do espelhamento vem a fundir dois outros aspectos: a duplicidade e a reversibilidade. Ocorre uma espécie de desvio de simbolizações - o espelho que se atravessa pode, oblíqua e analogamente, ser visto em Avalovara como porta ou até como o tapete final – ambos, elementos liminares nessa obra. Na arquitetura textual de Avalovara tem ligação decisivamente forte com a imagem do espelhamento – desde o Quadrado Mágico isso fica claro, pois é na escrita espelhada que forma e conteúdo se fundem – em Alice, o lado avesso do espelho configura espaço que, se não reproduz propriamente a imagem, representa como distorção onírica e abertura para a o enredo. O espelhamento neste estudo será tomado em duas acepções: primeiro de reflexo enquanto mecanismo de duplicação e, segundo, de reversibilidade/inversibilidade, frequentemente usada em Avalovara e que aparece nas Alices. Apesar de serem aspectos diferentes um do outro, terminam por se mesclar, abrindo, a partir do estudo da duplicação, como um aporte metaficcional, minha leitura acerca da mise-en-abyme em Avalovara – mecanismo estético disseminado no texto de forma perspicaz, principalmente no que concerne à destreza com que Osman Lins coordena a orquestração do romance, muito acentuadamente nos fragmentos metaficcionais. A ênfase nos movimentos especulares se fixa pelo peso descomunal e irizado de teias de acessos que comporta o espelho – metaforizado também nas implicações do ato da leitura e fortemente interligado ao aspecto temporal – indubitavelmente uma das linhas de força de Avalovara. Esta comunicação integra um trabalho mais amplo que desenvolvo junto ao Grupo de Estudos Osmanianos (liderado pela Profª Elizabeth de Andrade Lima Hazin, Universidade de Brasília) e mostra-se aqui como uma das faces nos estudos de Literatura Comparada e que, além disso, se afina com a proposta deste simpósio , que tem a obra do escritor pernambucano Osman Lins como fonte.
Palavras-chave: AVALOVARA, ALICES, ESPELHAMENTO, INTERTEXTUALIDADE
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