Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
À LUZ E À SOMBRA DOS PÁSSAROS DE LINS
THOMAZ ANTONIO SANTOS ABREU, ELIZABETH HAZIN
Esta comunicação possui três objetivos que se relacionam às narrativas "O Pássaro Transparente" e "Perdidos e Achados", escritas por Osman Lins: 1- mostrar que, nelas, encontram-se elaboradas duas imagens de pássaros marcadas estilisticamente; 2- mostrar que ambos esses pássaros são paradigmáticos em cada narrativa; e 3- mostrar que tais imagens apresentam aspectos constitutivos os quais as relacionam entre si dialeticamente. Esta proposta justifica-se porquanto as narrativas citadas parecem construir imagens de aves que possuem uma força conceitual e estilística. Neste sentido, pode-se afirmar que, em "O Pássaro Transparente", o homem, a partir da sua resignação intersubjetivamente coisificadora, depara-se com a imagem de uma ave, pintada num quadro reproduzido num jornal, a qual está voando com o coração transparente. Este pássaro representa um modo de ser oposto ao do homem, uma vez que a singularidade deste não se encontra efetivada na vida fosca a que ele se submeteu, de modo que o pássaro transparente adquire valor conceitual e estilístico consistente no texto. Assim, pode-se dizer que o olhar de gente do pássaro que voa transparente é metáfora de um modo de ser singular, isto é, indica-se a intimidade de um ser cuja singularidade encontra-se em seu próprio modo de ser, proceder esse de autoafirmação da intimidade, da peculiaridade, do si mesmo, ao contrário da repressão contra a singularidade, o que resulta em uma pessoalidade ofuscada, proceder esse da carência de si. Da mesma forma, há um valor conceitual e estilístico consistente em "Perdidos e Achados" no atinente à figura das aves costeiras, porquanto elas exprimem um modo de violência impiedosa e mortalmente agressiva, uma vez que descem sobre bichos que vivem na fronteira entre o mundo telássico e o mundo terreno, sendo que tais bichos são submetidos ao ataque voraz daquelas aves quando os mecanismos de defesa e as formas de vida deles se mostram insuficientes para eles se protegerem contra as aves, de modo que a sombra impiedosa destas marca, nodalmente, a narrativa. Existe um modo imanente dos seres que vivem na fronteira, na qual há relações de conflito inerente, como, por exemplo, dada a subida da maré, a invasão dos peixes ceifadores, que exercem voracidade peculiar. Diferentemente destes, as aves costeiras, porém, simplesmente, descem em voracidade hiperbólica, atacando os seres, estejam estes protegidos ou não, escondidos ou não, de modo que a voracidade delas exprime um trucidamento ante o qual não se torna exequível qualquer resistência. Esta voracidade pode ser indicada pela imagem de tais aves, pois elas não são diretamente vistas, mas as sombras dos seus olhos terrestres e dos seus agudos bicos tomam a força da presença empírica que preludia o fim dos seres sobre os quais elas impõem. A partir dessas considerações, procurar-se-á sugerir conexões e desconexões de sentidos entre as narrativas citadas.
Palavras-chave: PÁSSAROS, ESTILO, TRANSPARÊNCIA, TRUCIDAMENTO
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