Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
REMEMORIALIZANDO A INFÂNCIA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE NAS ÁGUAS DO TEMPO, DE MIA COUTO, E ERA UM DIA DIFERENTE QUANDO SE MATAVA PORCO, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO
ODARA PERAZZO RODRIGUES
Antes do apogeu dos Estudos sociais e culturais, a memória era tida apenas como fenômeno psicológico e pouco se falava da relação desta com aspectos relacionados à sociedade e à cultura. É partindo desse conceito, que Jacques Le Goff, em sua renomada obra intitulada História e Memória (1996, p.423), afirma que inicialmente a ideia de memória remete-nos a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passados. A partir daí, o estudioso aprofunda suas teorias de como a memória, tanto a individual como a coletiva, é construída e influenciada pelas relações sócio-culturais do indivíduo e pela história. A memória individual, que é o acúmulo de fatos, recordações e lembranças passadas de cada indivíduo, ajuda a construir o que chamamos de memória coletiva ou social, que é a junção de tradições e aspectos culturais vivenciados por um povo ou uma nação. Com este trabalho objetiva-se analisar os contos Nas águas do tempo, que integra a coletânea Estórias abensonhadas (1994), de autoria do escritor moçambicano Mia Couto, e Era um dia diferente quando se matava porco, que compõe a coletânea Já Podeis da Pátria Filhos (1991), do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, observando como a memória resgatada a partir de acontecimentos ocorridos na infância dos dois protagonistas contribui para a consolidação da identidade cultural local dos escritores supracitados. Em Nas águas do tempo, o protagonista e narrador relata um momento ocorrido na sua infância onde o seu avô, que ao temer que toda a tradição se perca, convoca-o para dar continuidade a mesma. Entre mitos, lendas e elementos culturais tradicionais africanos, a narrativa vai se tecendo e se consolidando como um estudo da cultura local através da memória, contribuindo assim para a perpetuação dessa cultura na contemporaneidade. Algo semelhando é observado em Era um dia diferente quando se matava porco, onde o protagonista, ainda criança, relata uma experiência marcante da sua infância advinda de uma tradição local. Ambos os escritores têm projetos literários semelhantes, sendo um dos principais objetivos o de consolidar a identidade local, a moçambicana no caso de Mia e a itaparicana no caso de Ubaldo, cuja população foi submetida a diferentes processos de assimilação cultural. Para atingir tal objetivo serão utilizados estudos teóricos de Jacques Le Goff, Ecléa Bosi e Pierre Nora, sobre memória; Stuart Hall, Homi Bhabha e Edward Said, sobre cultura e identidade; e Giorgio Agambem, sobre contemporaneidade.
Palavras-chave: MEMÓRIA, INFÂNCIA, MIA COUTO, JOÃO UBALDO RIBEIRO
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