Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
OS SEM-LAR: UMA LEITURA DO SUJEITO DESLOCADO NA OBRA QUARENTA DIAS, DE MARIA VALÉRIA REZENDE
RENATA CRISTINA SANT"ANA
No contexto de um mundo em movimento e em relação, tem-se um sujeito que se encontra para além dos confinamentos em seus espaços de origem, postos de frente às imprevisibilidades que esta abertura pode lhes proporcionar. Trata-se do sujeito deslocado da contemporaneidade e suas vivências identitárias marcadas por conflitos e negociações de ordem interna e externa. A luz de Édouard Glissant, Edward Said e Stuart Hall, busco neste trabalho apresentar uma discussão em torno das teorias críticas contemporâneas da identidade, considerando a relação sujeito/lugar e as questões sociais e culturais que subjazem e permeiam essas relações. Trata-se de uma análise da representação do sujeito deslocado na obra Quarenta Dias, de Maria Valéria Rezende. Através deste trabalho busco apresentar uma discussão em torno das teorias críticas contemporâneas da identidade, considerando, dentro da narrativa selecionada, a relação sujeito/lugar e as questões políticas, econômicas e culturais que subjazem e permeiam essas relações. O objeto literário selecionado para esta análise, apresenta em sua trama, uma narradora-personagem que vivencia o processo de migração interna, o que traz à baila questões envolvendo o sujeito deslocado da contemporaneidade ou do capitalismo tardio, aquele que por razões diversas apresenta-se em trânsito, cruzando fronteiras regionais e culturais diversas, por entre lugares também diversos. Frente a essa dinâmica e suas questões tem-se os elementos responsáveis pelos conflitos identitários vivenciados pela narradora personagem, gerado pela ausência do sentimento de pertença a um novo lugar, e as negociações identitárias necessárias à essa nova condição de existir em um espaço “fora do lugar”. Tal condição coloca em evidência os abismos invisíveis existentes entre mundos diferentes, e as fraturas de sentimentos e de compreensão sobre o outro. Através deste estudo, observou-se que o objeto literário em pauta não se demite das discussões em torno da realidade que permeia a condição humana e os conflitos advindos de situações sociais que geram dispersão e mudança de vida. Constatou-se que os discursos produzidos nos interstícios da experiência social, revelam, a partir do tempo e do espaço coletivo da narrativa, a pertença nômade como condição identitária do sujeito representado na obra, pois ele se desloca e transita por espaços indefinidos, híbridos e transformadores. Considerar o processo identitário a partir do entrelaçamento, do hibridismo, do contato entre culturas diferentes pode pressupor pensar em algo “pacífico”, porém, antes de se pensar em entrelaçamento cultural harmônico, no qual os fios são tecidos de modo a formarem uma malha multicultural, é necessário pensar em atravessamentos de culturas, nos entrechoques culturais, que deixam sempre marcas – marcas de que houve um contato que deixou vestígios, e que passam a fazer parte da identidade do sujeito, das coletividades. A importância do estudo sobre os conceitos de trânsito para se pensar o mundo contemporâneo e seus processos de mistura cultural, mostra o esforço que os pensadores críticos da contemporaneidade têm realizado na compreensão da atualidade da situação planetária, dando contribuição para que possamos perceber e compreender as experiências vivenciadas por indivíduos e coletividades que têm inspirado as narrativas literárias do tempo presente.
Palavras-chave: LITERATURA CONTEMPORÂNEA, IDENTIDADE, MIGRAÇÃO INTERNA
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