Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
AS CONVENÇÕES GÓTICAS EM OS 120 DIAS DE SODOMA
NICOLE AYRES LUZ
Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814), mais conhecido como Marquês de Sade, polêmico escritor francês da época iluminista, produziu Os 120 Dias de Sodoma ou A Escola da Libertinagem, obra simbólica do sadismo, em 1785, na prisão da Bastilha. Tendo permanecido inacabado e quase perdido, o romance foi publicado apenas no século XX, e sofreu bastante censura até se tornar um clássico da literatura francesa. O enredo apresenta quatro aristocratas libertinos, que trancafiam um grande grupo de pessoas, dentre elas suas esposas e parentes, quatro amas, oito meninos e oito meninas virgens, oito “fodedores” e quatro prostitutas contadoras de histórias em um castelo suíço durante quatro meses para a realização de orgias e torturas diversas, organizadas por ciclos, do mais básico ao mais intenso nível de violência. Os libertinos podem ser classificados como personagens monstruosos, de acordo com análises como as de Jeffrey Jerome Cohen e Julio Jeha, e, mais especificamente, como sádicos, termo derivado da obra do Marquês e cunhado pelo psiquiatra Richard von Krafft-Ebing. O sadismo foi originalmente descrito como um caso clínico de perversão sexual, e, posteriormente, ampliado e vulgarizado como sinônimo do ato de sentir prazer (em geral, de cunho sexual) com a dor alheia. De acordo com Georges Bataille, o sadismo consistiria na destruição do objeto de desejo – o que provocaria prazer, pelo poder gerado, fazendo com que o sádico se sinta superior à vítima. Os personagens sadeanos são devotos da libertinagem, como a uma religião, visando unicamente sua própria satisfação. A perversão sem limites de tais personagens horroriza o leitor, provocando medo artístico, conceito desenvolvido por Júlio França. Por meio desse tipo de reação, percebe-se que é possível experimentar uma sensação de prazer durante a leitura de obras onde predomina a maldade, pela consciência de seu caráter ficcional; a ameaça, portanto, não é real, o que possibilita a fruição estética. Observa-se também o papel do cenário sombrio na construção da narrativa para gerar esse efeito de medo. O castelo de um dos libertinos, localizado numa região isolada da Suíça, possui múltiplos ambientes, devidamente equipados para os fins de experimentação cruel dos protagonistas. Controladas e punidas em caso de desvio das regras estabelecidas pelos sádicos, em um ambiente desconhecido, atemorizante e afastado da civilização, as vítimas se encontram sem salvação possível. Considerando os personagens aristocratas monstruosos, o cenário lúgubre do castelo onde ocorrem os abusos e o pessimismo inerente à narrativa de Sade, o presente trabalho pretende descrever o romance como uma obra gótica.
Palavras-chave: SADE, OS 120 DIAS DE SODOMA, GÓTICO, MONSTRUOSIDADE
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