Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A PÓS-UTOPIA COMO MODO DE APROPRIAÇÃO DO PASSADO PELO PRESENTE EM TRÂNSITO
LEOMIR SILVA DE CARVALHO
Esta comunicação visa analisar, em produção ensaística de Haroldo de Campos, o modo como o conceito de pós-utopia torna-se uma forma de problematizar o presente e de apropriar-se do pensamento europeu. Especialmente no ensaio “Poesia e Modernidade: da morte do verso à constelação. O poema pós-utópico” (1997), proferido pela primeira vez em 1984, Campos demonstra estar atento aos estudos feitos na Alemanha por Hans Robert Jauss, no contexto dos estudos estético-receptivos, e por Octavio Paz na América Latina. Ambos estavam engajados em refletir acerca do conceito de modernidade: i. Em “Tradição literária e consciência atual da modernidade” (1996), o teórico alemão estuda o conceito de modernidade em Baudelaire realizando um percurso histórico sobre o termo antes de receber a contribuição decisiva do poeta francês; ii. Em “Analogia e ironia”, o poeta mexicano pensa as características do conceito em questão evidenciando a necessidade da ambivalência para compreender a dinâmica histórica. A questão central no ensaio de Campos é: qual seria a poesia viável no presente, tendo-se em perspectiva o contundente declínio dos projetos capazes de unir uma coletividade de artistas em torno de um ideal comum. Isso porque, de acordo com o crítico paulistano, as vanguardas se caracterizam pelo princípio-esperança compreendido como uma “esperança programática que permite entrever no futuro a realização adiada do presente” (CAMPOS, 1997, p. 265). Junto a esse princípio, conjugam-se os anseios de um movimento construído coletivamente, o que pressupõe a temporária dissolução das particularidades de cada membro em favor de um projeto comum, constituído, em última análise, por um ideal utópico. Nesse caso, as nomenclaturas insatisfatórias como pós-moderno e antimoderno conduzem à necessidade de pensar uma noção mais abrangente, o pós-utópico. Campos chama a atenção para a atualidade dessa noção caracterizada pela fragmentação, em contraste com as diretrizes totalizantes das vanguardas, e pelo princípio-realidade. Esse último traz consigo um matiz crítico, a respeito dos sucessivos projetos de futuro que procuram estabelecer um discurso unificador e “messiânico”. Campos considera que a possibilidade de apropriação de “uma ‘pluralidade de passados’ sem uma prévia determinação exclusivista de futuro” (CAMPOS, 1997, p. 268) seja o horizonte aberto pela contemporaneidade. Constata-se que ao aproximar o pensamento diacrônico do teórico alemão ao pensamento que denomina “sincrônico” do poeta e crítico latino-americano, Campos almeja, por meio da apropriação, insubmissa e deshierarquizante, questionar o presente refletindo sobre a impossibilidade do surgimento de outras vanguardas e chamando a atenção para o novo paradigma da atualidade nos três âmbitos caros ao seu pensamento acerca do poético, a ser: a tradução, a crítica e a historiografia literária.
Palavras-chave: PÓS-UTOPIA, CONTEMPORANEIDADE, MODERNIDADE LITERÁRIA
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