A história da literatura desfrutou de enorme prestígio em meados no século XIX, especialmente, por conta do aparecimento da história como disciplina pretensamente científica, cuja perspectiva dominou o conhecimento, e da definição do conceito de literatura no sentido moderno, consolidada em meio ao movimento romântico, que se opunha à doutrinação clássica aristotélica. Convém, então, destacar que a história da literatura sobrepõe-se às disciplinas de linha humanística (retórica, poética, gramática) devido à sua orientação cientificista, de acordo, portanto, com o perfil do século em que ela se estabelece. Entretanto, a concepção positivista da referida disciplina foi abalada com os estudos de fundamentação linguística desenvolvidos no período que vai de 1910 a 1970, a partir, sobretudo, do formalismo russo, passando pelo new criticism e repercutindo no estruturalismo. Sendo assim, a história da literatura sofre certo desgaste, declinando em respeitabilidade científica e voltando a ter certa visibilidade, apenas, com os estudos da estética da recepção (por volta da década de 1960). Ainda assim, os vários questionamentos aos quais foi submetida a história da literatura, bem como a desvalorização dos ideais que a ela estavam ligados, como os de nação, identidade nacional e patriotismo, não diminuíram sua função prática, mas alteraram profundamente o seu lugar no âmbito dos estudos literários. No que diz respeito ao ensino de literatura, por exemplo, a disciplina em questão parece ser ainda fundamental, pois é difícil dispensar por inteiro um ensino pautado na periodização de obras e escritores, situados em recortes temporais e ligados a movimentos estéticos. No entanto, esta metodologia, centrada nos períodos literários, é alvo de críticas por parte de muitos professores, que consideram negativo esse modo de ensinar literatura na escola. Todavia, olhando por outro ângulo, o que poderia ser criticada é a forma como a história da literatura é tratada em sala de aula. A partir disso, é possível afirmar que a história da literatura passa por uma crise. Se assim é, questionamos: o ensino de literatura também é atingido por essa crise? Por que ainda se dá, em sala de aula, o estudo de obras e autores que compartilham dos mesmos valores estéticos e que são regidos por uma linha temporal? Com base em Maria Eunice Moreira, Roberto Acízelo de Souza, Paulo Franchetti, entre outros estudiosos da área, objetivamos problematizar o lugar da história literária como ciência, ligada aos estudos literários. Para tanto, levaremos em conta as relações que ela estabeleceu, desde sua formação, com outras disciplinas, a saber: a literatura comparada, a crítica literária e a própria teoria da literatura, esta abastecida com subsídios de investigação pela história da literatura. Por fim, intentamos avaliar o seu lugar no ensino de literatura, buscando o trajeto histórico de implementação da disciplina tanto no meio acadêmico quanto no ensino básico, estendendo nossa reflexão para o caráter imprescindível da angulação diacrônica inerente à história da literatura.
Palavras-chave: HISTÓRIA DA LITERATURA, ESTUDOS LITERÁRIOS, ENSINO DE LITERATURA