O trabalho apresentado aqui pretende contribuir com o Simpósio intitulado “Poesia contemporânea: crítica e transdisciplinaridade” a partir do andamento prévio de pesquisa no âmbito de doutorado intitulada Articulações possíveis para os conceitos de temporalidade e espacialidade na poesia contemporânea: a obra de Augusto de Campos. A análise tem como foco o viés da poesia contemporânea, do fazer poético e das publicações destas através do poeta mencionado. A escolha de Campos deve-se à representação deste autor como um dos fundadores e disseminadores da poesia concreta e de vanguarda. Além disso, tais poesias possuem acentuada expressão gráfica, através dos meios visuais, e sonora. E figuram também em meios digitais constituindo, assim, nova textualidade e experimentação poética. A relevância desta proposta de discussão consiste na escolha da poesia concreta como uma das possibilidades de representação da poesia contemporânea. Através da poesia contemporânea e, neste caso, particularmente, da poesia concreta, manifesta-se a poesia de vanguarda, para a qual o leitor é peça fundamental tanto no processo criativo quanto na proposta de reflexão que a poesia busca suscitar. Para Agamben (2009), o poeta contemporâneo mantém fixo o olhar no seu tempo para perceber não luzes, e sim o escuro. O contemporâneo, percebendo o escuro do presente, divide e interpola o tempo à altura de transformá-lo e colocá-lo em relação com outros tempos, de nele ler de modo inédito a história. A justificativa para tal afirmação estaria na noção de que todos os tempos, para quem deles experimenta contemporaneidade, são obscuros. A poesia contemporânea, entendida aqui como poesia de vanguarda, soube enxergar o escuro de seu tempo através das diversas manifestações de arte propostas por inúmeros autores, entre eles, Augusto de Campos. Siscar (2010) expõe que Campos está sempre perfeitamente antenado com o que há de mais “avançado” tecnicamente e deste modo de maneira mais explícita aos rumos da atualidade através da exploração do grafismo, da holografia, da sonoridade e da cibernética na sua trajetória poética. E faz um paralelo do poeta brasileiro com a figura intelectual de Mallarmé que experimentou em diversos graus o desprezo por uma época de materialismo burguês, de cultura rebaixada, cuja linguagem estaria reduzida ao falatório cotidiano e utilitário da “universal reportagem”. Constituirão o corpus de pesquisa as obras: Expoemas, Poetamenos, Despoesias. Pretende-se investigar características da poesia de Campos a partir de elementos como persuasão, capacidade de síntese, comunicação, conteúdo crítico e interatividade. Objetiva-se traçar o perfil de sua textualidade discutindo o intercâmbio que esta poesia faz com as formas contemporâneas de tecnologia de comunicações tais como a publicidade, o digital, a “intermídia”. A poesia de Augusto de Campos é relevante para contribuir com o que propõe Scramim (2012) quando apresenta a necessidade de reflexão sobre a produção poética. Acredita-se que as textualidades poéticas abarcam conceitos relevantes da Literatura Brasileira, sobretudo quando permitem uma releitura da contemporaneidade.
Palavras-chave: POESIA CONTEMPORÂNEA, AUGUSTO DE CAMPOS, TEXTUALIDADES, TEMPO E ESPAÇO