Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
REFLEXÕES SOBRE O GESTO COLETIVO: UM PARALELO ENTRE O GRUPO NOIGANDRES E OS COLETIVOS CONTEMPORÂNEOS
MARINA LIMA MENDES, PAULO HENRIQUES BRITTO, MIGUEL JOST
Apesar de ser recente a multiplicação e destaque dos ‘coletivos’ – grupos que atuam de forma não hierárquica, unindo esforços e compartilhando decisões sem destaque individual, segundo definição de Claudia Paim – o gesto de criar e se posicionar coletivamente no campo das Artes não é um fenômeno que se iniciou no contemporâneo. Em entrevista ao programa Roda Viva, em 1992, Haroldo de Campos afirmou que todo movimento de vanguarda, não somente a Poesia Concreta brasileira, haveria de ser primeiramente um movimento coletivo. Haroldo, seu irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, três dos principais nomes entre os concretistas, participaram por um breve período do Clube da Poesia até que, em 1952, fundaram seu próprio grupo, o Noigandres – nome dado também a revista que publicavam juntos. “Tem de haver uma redução da personalidade individual de cada um dos poetas, escritores ou pintores engajados em prol de uma linguagem comum. (...) No caso da Poesia Concreta se desejava chegar quase a uma desaparição elocutória do eu, poema anônimo total,” disse Campos em 1992. O espírito coletivo de que fala, além de favorecer uma unidade estética e conferir um ar de militância aos movimentos, também proporcionava processos com trocas enriquecidas pelas diferenças e embates criativos em diversas áreas – uma vez que as fronteiras entre literatura, música, cinema, pintura foram dissolvidas nesta época. E se “há uma história da literatura que se projeta na história da cidade de São Paulo e há uma história da cidade de São Paulo que se projeta na literatura,” como disse Antônio Cândido, outro aspecto importante a destacar é a relação entre o pensamento coletivo, as obras e a cidade. No caso especificamente dos concretistas, a influência do entorno – as vitrines, a publicidade, as mudanças no trânsito e as longas distâncias percorridas – se faz clara, sendo o poema “Cidade, City Cité” de Augusto de Campos um dos melhores exemplos disto. Quais destes traços e modus operandi brevemente expostos acima – a supressão do eu, a unidade estética, a troca, a multidisciplinaridade, a militância, a relação com a cidade, etc – se pode identificar como herança das vanguardas refletindo-se na lógica dos coletivos artísticos contemporâneos? O que há de novo, o que foi reinventado? Entende-se que a semântica relacionada ao termo ‘coletivo’, este sim uma novidade, parece reforçar o desejo de derrubar fronteiras, promover o encontro, fazer roçar conceitos e friccionar linguagens. A própria diminuição do eu, a não-assinatura individual, em prol do grupo ganha um caráter conceitual extremamente político em tempos de individualização crescente. Propõe-se lançar um olhar aos coletivos artísticos contemporâneos, tais quais o Atrocidades Maravilhosas e o Opavivará – reforçando a diluição dos limites entre a poesia e as artes plásticas – a fim de tecer uma comparação e uma atualização sobre o modo de ser coletivo na contemporaneidade.
Palavras-chave: COLETIVO, POESIA CONCRETA, CONCRETISMO, VANGUARDA
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