Mia Couto é o autor moçambicano mais reconhecido da atualidade. Seu estilo literário o destaca em meio a outros escritores. A criação de neologismos, a paisagem insólita e a história de Moçambique são as bases de uma trama narrativa alinhavada pela constante presença da cultura e da tradição do povo moçambicano. A escrita de Mia Couto é conhecida por sua poeticidade. O escritor moçambicano narra períodos duros e acontecimentos cruéis da história de seu país com incomum sensibilidade. Nosso objeto de estudo é a obra A Varanda do Frangipani, temos retratados nesse livro a história de uma pátria espoliada pela colonização e pela guerra civil. Contudo, a narrativa, mesmo que apresentando um momento real da história, ganha ares insólitos graças à forma como é contada. Durante a leitura da obra, observa-se que a história factual de Moçambique é introduzida no romance, mas a narrativa não pertence aos campos da Geografia ou da História: ela se identifica diretamente com o mito e a linguagem insólita, pois o livro foi construído metaforicamente. As metáforas absolutas (Hans Blumenberg) como a água, o sal, o buraco e os símbolos (Chevalier e Bachelard) permeiam toda a narração. Além disso, há na obra a construção da paisagem desse país através também da metáfora da fortaleza que representa a degradação total de Moçambique. A linguagem de tão metafórica torna-se nublada, complexa e plena de plurissignificação, abrindo precedentes para a forte presença do insólito na trama. As metáforas possuem um poder profundo. São sugestivas, didáticas, filosóficas e pragmáticas, desencadeando o pensamento e a expressividade. A metaforologia é, portanto, uma quebra dos limites dos discursos, ela ultrapassa o poder conceitualizador e racional; e revela a metáfora como forma privilegiada de compreender o inconcebível. Elas auxiliam a verbalização, assim como o encontro do núcleo expressivo de uma reflexão. No caso da obra analisada, a vida e a morte. Em A varanda do Frangipani, notamos a importância do imaginário marítimo. O asilo/fortaleza é cercado pelo mar, detentor de perigos e medos. Simboliza o desconhecido, o estrangeiro que por ali chegou, assim como o isolamento daqueles poucos indivíduos, ali reclusos, que preservam a essência moçambicana. Na obra de Mia, todos os viventes da Fortaleza são personificações de náufragos, que foram expulsos do convívio humano, degradados e sozinhos naquele pedaço de terra, como seres perdidos em uma ilha isolada, sem acesso ao mundo exterior. O mar ao redor da fortaleza é forte, violento e revolto; o acesso ao local, por questões de segurança, ocorre por ar e não pelo mar. O estudo das metáforas marítimas auxiliam os estudos de diversos outros tipos de metáforas, que como essas se enraízam na cultura humana, fazendo parte do imaginário das pessoas constantemente. O método adotado por Blumenberg para desenvolver uma filosofia da história da arte serve para conduzir a hermenêutica da narrativa de Mia Couto em A varanda do Frangipani.
Palavras-chave: A VARANDA DO FRANGIPANI, METÁFORA, INSÓLITO, SIMBOLOGIA