FRANCISCO EWERTON ALMEIDA DOS SANTOS, JOEL CARDOSO DA SILVA
Entre o final da década de 50 e inicio da seguinte do século XX, quando José Luandino Vieira desponta como escritor, Castro Soromenho, de dicção neo-realista, era o maior destaque da ficção angolana, e ainda que sua produção apresentasse uma ideologia marxista e representasse a angústia do viver na colônia com um olhar crítico, ainda era uma visão “de cima”, da cultura dominante, cujo narrador apresentava uma linguagem neutra e distanciada de seus personagem das classes subalternas. Uma das inovações presentes em sua proposta estética foi a linguagem inventiva, que subverte os padrões da língua portuguesa europeia pela recriação da fala colonial do sujeito angolano, aspecto que entra em consonância com sua prosa nacionalista e combativa ao poder colonial português. Este texto visa investigar, comparativamente, cinema e literatura africanos, mais especificamente angolanos, no período das lutas pela descolonização do país. O foco do trabalho será o trânsito intersemiótico entre o filme Monangambé (1968), dirigido pela cineasta Sarah Maldoror (1939), e o conto que adapta, “O fato completo de Lucas Matesso” (VIEIRA, 2006) do escritor angolano José Luandino Vieira (1935), tendo em vista, sobretudo, os procedimentos estéticos de que a cineasta lança mão para transpor a linguagem poética de Luandino Vieira para o meio audiovisual . Ambos, escritor e cineasta, tiveram papel ativo no período das lutas pela descolonização de Angola, sendo integrantes do MPLA (Movimento Para a Libertação de Angola). Luandino Vieira foi preso pelo PIDE, órgão de repressão da ditadura salazarista, em 1958 e em 1961, passou quatorze anos na cadeia, acusado de ser “terrorista” (termo utilizado pelo discurso colonial para designar ativistas combatentes do colonialismo), e escreveu lá grande parte de sua obra. Sarah Maldoror, por sua vez, iniciou-se nas lutas pela independência das colônias africanas no período em que estudou cinema na URSS, entre 1961 e 1962, onde conheceu o poeta Mário Pinto de Andrade (1928-90), um dos fundadores da MPLA, de quem foi companheira. Percebemos, portanto, as similitudes entre as vidas destes autores, marcadas pelas mesmas lutas políticas, sociais e contingências históricas, e assim também é sua arte, símbolo da resistência contra a opressão. Não obstante, a narrativa aqui abordada, escrita durante o período em que Luandino Vieira estava preso, representa este momento histórico e reflete a experiência carcerária a qual qualquer angolano suspeito de envolvimento no combate ao colonialismo poderia viver na época.
Palavras-chave: JOSE LUANDINO VIEIRA, LITERATURA, SARAH MALDOROR, CINEMA