O presente trabalho pretende situar as animações digitais denominadas GIFs (Graphics Interchange Format) no universo da escrita e narrativa contemporânea. Para isto, os gifs estarão sendo considerados enquanto nanonarrativa digital. O desenvolvimento deste argumento será baseado nos conceitos de: microficção e microconto trabalhados pelo autor Lauro Zavala; as discussões sobre poder e linguagem empreendidas pelo teórico Michel Foucault; serão utilizados também, a fim de contextualizar o espaço virtual, as plataformas digitais, a cultura contemporânea de convergência e a apropriação “antropófaga” dos elementos da mídia, os estudos e reflexões de Pierre Levy e Henry Jenkins. Para situar o gif enquanto objeto de análise no campo da cultura digital ressalta-se sua representatividade nas diversas redes sociais e mídias digitais, especialmente nas comunidades participativas. É pela sua expressão intercultural e de intertextualidade, como também por sua ligação com o cinema e os quadrinhos, que o gif se inscreve num espaço minimalista e veloz, como pílula, em nano, aproximando-se, por exemplo, da justaposição de imagens e diálogos poéticos dos haikais (haiku). Este formato, além de suporte, se concebe a todo tempo no espectro de referencialidades transmutadas da cultura de convergência. São nanonarrativas animadas plurilinguajantes que expressam estratégias de cumplicidade com o leitor, através da experiência com imagens – escritas e vistas. As estruturas narrativas, como a linearidade ou a cronologia do desenvolvimento textual, acabam por ser rasuradas e subvertidas pela estrutura proposta pelo gif e seus criadores, em especial o que se produz como dito-escrito. Ele se emaranha com a metodologia queer, com o transver, com o trânsito, espaço onde se é a dobra, um processo dialético, a imagem-palavra que está sendo imagem para além do signo. Representa, portanto, a potência de escrita curta, que significa um mundo de referencias sublimadas e subsumidas, repleto de ludicidade. Esta escrita-imagem, no entanto, vai além da brevidade, da narratividade e se define no diálogo intersemiótico. É uma escrita digital em que a imagem é indissociável do narrador ou personagem principal na composição da narrativa de segundos. A hilariedade e/ou a comicidade, tantas vezes questionadas na história da literatura e da filosofia, é uma característica marcante e força motriz para este fazer discursivo. Redunda numa escrita experimental, não necessariamente engajada nas estruturas e questões formais da linguagem, mas que agrega em sua corporeidade a cultura da mídia e do show do eu, características que a inscrevem no contrafluxo das diretrizes do cânone literário em sua crítica sobre a escritura e a narrativa contemporânea, especialmente no cenário da escrita no ciberespaço.
Palavras-chave: GIF, NANONARRATIVA, LITERATURA DIGITAL, CULTURA CIBERNÉTICA