As ferramentas digitais contemporâneas viabilizadas pela expansão e aprimoramento da internet têm transformado significativamente as formas de acesso e apreensão do conhecimento, as práticas de leitura e escrita, bem como os padrões cognitivos e comportamentais individuais e coletivos. A rede tornou-se um locus essencial de interação e troca influências, reconfigurando textualidades e intertextualidades, possibilitando por meio de seus variados suportes, plataformas digitais, conteúdos e valores, inúmeros modos de expressão e atuações culturais (CHARTIER, 2002; SHIRKY, 2011; CASTELLS, 2013). Tais rupturas, no entanto, trouxeram ao mundo digital a inevitável imperatividade do debate acerca das perdas ocasionadas pelas tecnologias de rede. Isso porque, além das conhecidas conquistas, o mundo digital contemporâneo tem afetado vertiginosamente a capacidade de elaboração do pensamento reflexivo e, consequentemente, a construção de conceitos e visões de mundo (CARR, 2011). A leitura em rede tem se pautado pela não linearidade, rapidez e fragmentação, afetando a compreensão de informações mais complexas, assim como a memorização de conteúdos nos mais variados gêneros e tipologias textuais. Nesse cenário, a produção escrita, seja pelo seu alcance verbal ou não verbal, tem se tornado concomitantemente uma ferramenta de veiculação de um opaco e deficiente pragmatismo comunicativo. Se por um lado as novas tecnologias de rede promovem um espaço de múltiplas possibilidades criativas e de compartilhamento, por outro, reverberam indícios de relevantes contradições que precisam ser amplamente debatidas. A razão disso reside no fato de que as novas práticas de leitura e escrita são também portadoras da superficialidade, da dispersão, da imposição e do isolamento. Diante dessas instigantes mutações, o texto literário surge como um eficaz instrumento de enfrentamento dos crescentes ocasos intelectuais continuamente suscitados pelo universo digital (ECO, 2010). Mais do que uma fonte de entretenimento, o literário viabiliza um processo formativo que resgata tanto a leitura reflexiva quanto o incentivo a uma produção escrita crítica e/ou estética. O aspecto multidisciplinar da literatura em conjunto com sua estética discursiva, seja na forma impressa ou virtual, possibilitam a construção de novos saberes e práticas geradores de autonomia e renovação epistemológica (BARTHES, 1980, TODOROV, 2009). Tendo em vista tais pressupostos, o presente trabalho objetiva inicialmente trazer à baila recentes aportes teóricos a respeito das novas transformações na leitura e escrita promovidas pela revolução digital, principalmente pelo uso da internet. Em segundo lugar, será abordada a relação entre literatura, leitura, escrita e formação intelectual frente aos desafios da rede e do mundo digital. Finalmente, esta comunicação proporá uma discussão sobre o papel formativo da literatura e as (des)construções incitadas pelas novas textualidades virtuais, assim como pelas tecnologias que as tornam possíveis.