Nesta comunicação, tratamos das mudanças nas chamadas escritas de si no Brasil – principalmente, a escrita diarística - ocasionadas pelo surgimento da internet. Traçamos uma breve genealogia do gênero, a partir dos principais teóricos que abordam a questão, como Lejeune e Lecarme. Discutimos o diário como um discurso que constitui um corpo e reverbera uma verdade, como considera Foucault. Apresentamos também as principais características do diário, para, em seguida, nos debruçarmos sobre o surgimento da internet e dos blogs. Nesse momento, analisamos as diferenças entre o diário escrito e o virtual, refletindo sobre a intimidade. Se, no diário, o segredo e a intimidade não talvez não fossem nem tão secretos e íntimos, pois, em muitos casos, seus autores pressupunham a existência de um leitor, no caso dos blogs, embora pareça ainda haver uma preocupação com o desabafo, a interatividade é a principal marca desse tipo de escrita. Os leitores liam os diários de papel e dificilmente tinham um contato com seus autores. Com os blogs, a interação se tornou uma realidade, transformando até intenção da escrita. Por meio do contato dos internautas, os chamados blogueiros passam a saber do que seus leitores gostam e, com isso, começam mais a buscar atender a essas expectativas do que seus próprios interesses. A exposição do eu se torna mais contundente com o surgimento dos vlogs, que implicam a postagem de vídeos nos quais seus autores aparecem expondo suas vidas. Tais vídeos mostram, muitas vezes, a casa de seus autores, seus familiares, sua intimidade. Os denominados vloggers se tornam celebridades, com milhões de seguidores e cujos vídeos têm também milhões de acesso. Esta ‘fama’ atrai a atenção de diversos tipos de mercado, incluindo o editorial. Muitos vloggers acabam publicando livros, que se tornam fenômenos de venda. Assim, abordamos a transição do blog para o vlog e, posteriormente, para o livro. Para ilustrar, trazemos dois exemplos: a blogueira Bruna Vieira e a vlogger Kéfera. O blog de Bruna Vieira, Depois dos quinze, tornou-se um fenômeno da internet, o que fez com que sua autora publicasse um livro de mesmo nome, o qual vendeu milhares de exemplares. Kéfera é a idealizadora do vlog 5minutos, que tem mais de oito milhões de seguidores. Esta visibilidade também despertou o interesse do mercado editorial. A vlogger publicou o livro Muito mais do que 5inco minutos, cuja primeira tiragem teve mais de 15 mil exemplares. Por fim, analisamos brevemente estes livros, que parecem ter se tornado uma tendência do mercado editorial brasileiro.