Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
OS MITOS RIBEIRINHOS NAS NARRATIVAS ORAIS DE NAZARÉ/RONDÔNIA
SIMONE G NORBERTO
A oralidade, tradição tão antiga quanto a comunicação humana, é o objeto de investigação e análise da pesquisa sobre os mitos e as lendas ribeirinhas da Região do Baixo Rio Madeira, município de Porto Velho, Rondônia. Por meio dos relatos, registros da memória das pessoas, é possível se aprofundar nos mistérios da natureza e nas relações sociais de uma comunidade amazônica, afinal a mitologia revela uma convergência de temas, inquietações e reflexões humanas. Em plena era cibernética, os "beiradeiros" cultivam costumes de contar histórias que explicam sua realidade, suas vivências, seu ambiente. São as chamadas lendas, que para as comunidades não têm esse caráter farsesco. Trata-se, sim, de fatos do passado, críveis tanto quanto cada acontecimento do cotidiano. O repertório colhido ao longo da pesquisa na localidade de Nazaré/Rondônia revela desde os mitos primordiais, que constituem os diversos momentos da existência, até o lendário folclórico, que pressupõe rearranjos culturais conforme as relações sociais de expansionismo econômico e domínio. Dentre os que se destacam durante a pesquisa na comunidade estão os mitos das águas (Cobra-Grande e Boto), os protetores da floresta (Curupira e Matinta pereira), além das visagens e outras transfigurações. Os diferentes aspectos e manifestações, experiências dos narradores, registros ou mesmo a o efeito que esses contos provocam na comunidade são analisados e apresentados sob uma perspectiva dos estudos pós-coloniais e, por meio da estratégia da releitura, que consiste na percepção das implicações sociais e políticas da colonização imbuídas e também sua posição ideológica na construção, expansão e estabelecimento do discurso colonial. A aplicação dessa teoria e seus diferentes aspectos se ajustam ao objeto desta análise, pois trata-se de uma comunidade amazônica, marginalizada pelo preconceito, pelo recalque e pelo olhar colonizador que a população urbana tem do ribeirinho. Enquanto o morador da cidade encara os mitos e lendas como histórias sem credibilidade, o representante dessa cultura cabocla se volta para elas como forma de valorizar suas tradições e manifestações culturais. A investigação sobre os mitos ribeirinhos de Nazaré pode revelar, portanto, tanto o movimento de reação quanto de permanência, a valorização de uma identidade cabocla à margem ou a ação perversa da imposição cultural do centro. Porém, a predominância é a resistência da comunidade, por meio de um conceito ampliado de cultura, entendida como a totalidade da arte, ciência e todas as a instituições sociais, incluindo os sistema de crenças e ritos, valores frequentemente expressos por meio das expressões populares.
Palavras-chave: ORALIDADE, MITOS, RIBEIRINHOS, PÓS-COLONIALISMO
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