O presente trabalho tem como objetivo analisar a obra Pará, Capital: Belém, Memórias e Pessoas e Coisas e Loisas da Cidade, do escritor paraense Haroldo Maranhão, enfatizando a formação e o aspecto cultural da cidade de Belém. Com 400 anos recém-completados, a capital paraense ocupa o centro das mais variadas discussões no âmbito das ciências humanas, realizadas principalmente na região norte do Brasil. O estudo da obra literária em questão é propício neste momento de celebração e debates sobre Belém e suas complexidades sociais e culturais, pois proporciona um passeio por várias perspectivas sobre o seu espaço, desde sua fundação até meados do século XX. Pará, Capital: Belém é uma obra tecida por meio da técnica da apropriação textual. Seu enredo é composto por trechos dos mais variados textos sobre o ambiente social, a história e a cultura belenense. Cada fragmento textual recebeu um título de autoria de Haroldo Maranhão, o qual, porém, manteve a assinatura dos autores originais. Os múltiplos olhares sobre Belém se mesclam, possibilitando reflexões relacionadas a questões como identidade, memória e patrimônio cultural. Ver-se-á que a temática da memória erigida em Pará, Capital: Belém se baseia na dinâmica de vida dos habitantes da cidade, enquanto que o patrimônio da cidade é revisitado em sua vertente imaterial. A identidade da cidade, por sua vez, é configurada a partir do ponto de vista de cada um dos autores dos textos escolhidos por Haroldo Maranhão, o que resulta em um perfil heterogêneo sobre a cidade de Belém. Para interpretar a série de questionamentos levantados por Pará, Capital: Belém, o presente estudo utiliza obras-chave como As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, a qual conceitua a cidade a partir das complexidades humanas existentes em seu espaço. Tal conceito de cidade é conveniente para a interpretação de Pará, Capital: Belém, visto que possibilita a contemplação da diversidade cultural envolvida na fundação e desenvolvimento da capital paraense. Outros trabalhos importantes como o de Maurice Halbwachs o de Ecléa Bosi, serão empregados, no intuito de destacar a relação entre espaço e indivíduo como construtora da memória. As marcas identitárias da cidade, determinadas pela diversidade de olhares sobre seu espaço, serão discutidas a partir do texto A identidade Cultural na pós-modernidade, de Stuart Hall, evidenciando como estes pontos de vista constroem uma identidade heterogênea sobre Belém. Para a reflexão sobre o patrimônio serão utilizadas as análises de Carlos A. C. Lemos e Carla Galvão de Souza, dedicados à ampliação do conceito de patrimônio cultural, ressaltando os objetos patrimoniais presentes na referida montagem literária sobre Belém. Os elementos elencados de Pará, Capital: Belém, em coadunação com as teorias utilizadas, evidenciam a referida obra haroldiana como escritura colaboradora para a preservação e renovação da memória histórica e cultural da cidade de Belém. Na medida em que valoriza a participação, tantas vezes ocultada nos discursos históricos e patrimoniais, do negro e do índio na formação de Belém, a prosa- montagem de Haroldo Maranhão evidencia dimensões esquecidas de uma das principais cidades da Amazônia.