Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A REPRESENTAÇÃO DE ALTERIDADES E DIFERENÇA NA AMAZÔNIA HATOUNIANA.
LIOZINA KAUANA DE CARVALHO PENALVA, EURÍDICE FIGUEIREDO
O presente artigo propõe uma discussão sobre a representação de alteridades e diferença na Amazônia brasileira, a partir de uma análise comparativa das obras Relato de um certo Oriente (1989), Dois Irmãos (2000) e Órfãos do Eldorado (2008), de Milton Hatoum. A escolha dessas narrativas se faz pertinente pelo fato de Hatoum ser um escritor contemporâneo, comprometido com a região amazônica, e os seus textos apresentarem um debate acerca das problemáticas da região, propondo uma releitura dos processos de enunciação e desfazendo hierarquias tão presentes no processo de formação do espaço amazônico brasileiro. Nota-se que as narrativas desse escritor amazonense estão sempre mergulhadas em um contexto de convivência entre múltiplas e complexas culturas, que deslizam por fronteiras móveis, instáveis e indeterminadas. Na comparação desenvolvida, é, portanto, possível identificar um projeto literário que prioriza as interações que tomam lugar nas várias trocas culturais que ali se estabelecem. Hatoum revela-nos uma região formada não apenas por elementos culturais autóctones, mas um local de encontro de culturas distintas que dialogam entre si. São textos que por evidenciarem processos híbridos e de alteridade, provocam mudanças nas concepções entre o que é hegemônico e o que é subalterno, entre alta cultura e cultura popular, entre periferia, margem e o outro. Os narradores-personagens das obras em questão parecem estar sempre em uma misteriosa busca pelo outro ou até mesmo pela reconstituição do seu passado, mas esta procura parece estar sempre fadada ao fracasso. Esse sentimento é também uma das formas dos autores para dar relevo à inquieta relação do sujeito contemporâneo com aquilo que lhe é familiar, e também com suas figuras de alteridade. Nesse sentido, a proposta é observar, a partir de teorias desenvolvidas pelos estudos culturais e pós-coloniais, como Hatoum traz para a discussão as relações de alteridades e diferenças na complexa formação cultural amazônica, contribuindo, dessa forma, para que sejam consideradas vozes, estórias e mitos soterrados pela ótica ocidental. Para isso, destacamos as teorias de Homi K. Bhabha, Stuart Hall, Jacques Derrida, Walter Mignolo e Ana Pizarro, que têm ajudado a pensar a identidade cultural não como uma essência fixa e homogênea, que se mantém imutável, fora da história e da cultura, mas como um processo que se encontra em constante diálogo e transformação, principalmente no mundo atual, em que a globalização, os meios midiáticos e a tecnologia exigem cada vez mais dos sujeitos um movimento maior de intersecção e troca de valores e experiências. Portanto, o objetivo principal deste artigo é discutir processos de alteridades e diferenças, distanciando nossas referências identitárias e culturais do olhar exótico, selvagem e incivilizado que a literatura de viagem dos cronistas europeus, em sua maioria, nos concebeu em seus relatos, assim como em outros textos que objetivaram pensar a cultura amazônica. A partir das experiências vividas pelos narradores das obras analisadas, elaboraremos uma discussão sobre como culturas distintas se olham em suas diferenças, misturam-se, às vezes se chocam, mas também se complementam.
Palavras-chave: AMAZÔNIA, MILTON HATOUM, ALTERIDADES, DIFERENÇA CULTURAL
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