O presente trabalho visa refletir sobre a forma como a imagem do nordestino é construída pelos escritores paraenses Raimundo Holanda Guimarães, Bruno de Menezes e Benedicto Monteiro, em seus respectivos romances Chibé (1964), Candunga (1954) e Verde Vagomundo (1964). A Amazônia é marcada por uma história de ocupação humana bastante diversificada (PIZARRO). No entanto, ao se fazer alusão à região, percebe-se um discurso homogeneizador que omite ou desconsidera a contribuição advinda das intensas migrações nordestinas à Amazônia. Essa imagem construída sobre a região pelo senso comum, pautando-se principalmente no exótico, tem erigido a figura do indígena e do caboclo como habitantes “típicos” da região (LIMA, GOMDIM, FERNANDES), e o nordestino, quando considerado, tem sua imagem fortemente marcada por estereótipos e caracteres pejorativos. “Flagelo das secas”, “brigão de peixeira no cós”, “nordestino inflamável”, além de comparações com o diabo, figuram entre os qualificativos atribuídos ao nordestino. A chegada a uma terra nova, o contato com outras culturas e, sobretudo, os conflitos advindos destes, tem figurado como enredo principal ou secundário em diversas obras da literatura paraense, dentre as quais estão as aludidas acima. Entender como as imagens criadas por nossos ficcionistas redimem ou animalizam o nordestino em suas respectivas obras pode nos ajudar refletir sobre o impacto e a importância das migrações nordestinas, os conflitos advindos da mesma, além de perceber como os discursos identitários, pautados na diferença entre um “eu” e um “outro” se tem configurado na literatura paraense. Para tanto, pretende-se, a partir da perspectiva dos Estudos Culturais, lançar mão de autores como Zigmunt Bauman, Neide Gondim, Ana Pizarro, Albuquerque Júnior, Paes Loureiro, Débora Lima e José Guilherme Fernandes, no sentido de lançar luzes sobre como os conceitos de identidade, migração e diferença cultural se entrecruzam nas construções discursivas dos prosadores literários da Amazônia Paraense, em foco neste trabalho.