Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
VEREDICTO EM CANUDOS: O OLHAR INTERTEXTUAL DE SÁNDOR MÁRAI SOBRE OS SERTÕES, DE EUCLIDES DA CUNHA
SUÊNIO STEVENSON TOMAZ DA SILVA
Quando lemos uma obra literária, seja prosa ou poesia, naturalmente, estabelecemos conexões com outras do mesmo e até de outro gênero. Essa noção de conexão coaduna com a noção de intertextualidade defendida por Julia Kristeva. Assim, é notório o fato de que um texto nunca é a expressão de um significado autoral singular nem tem um significado que se origina e fecha naquele texto particular de forma isolada, mas só pode ser compreendido na sua relação com outro texto ou com uma variedade de outros. Diante do exposto, o objetivo desta proposta de trabalho consiste em apresentar a relação intertextual existente entre o romance Veredicto em Canudos (2002), do húngaro Sándor Márai e Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha. Como se observa, um século separa as duas obras, entretanto, as distâncias temporal, geográfica, linguística e cultural não impedem que a relação intertextual entre elas se estabeleça de modo tão explícito, sobretudo no concerne à temática explorada em ambas. Indubitavelmente, é o tema da Guerra de Canudos que informa os enredos dos romances aqui cotejados. No que concerne à narrativa de Euclides da Cunha, vale mencionar que o escritor em 1897 foi enviado como repórter ao interior da Bahia para cobrir o evento revolucionário em Canudos, sob a liderança do emblemático Antônio Conselheiro. A cobertura da guerra resultou na publicação de Os Sertões, romance que trouxe à tona conflitos relativos ao advento do regime republicano no Brasil. Os Sertões cuja narrativa é estruturada através de uma linguagem bastante eloquente e rica em termos científicos, além do alto rigor descritivo, está dividido em três partes, a saber: A terra (o meio), O homem (a raça) e A luta (o momento). Será em torno dessas três tópicos que abordarei o a relação intertextual entre Veredicto em Canudos e Os Sertões. Na seção referente à Terra, por exemplo, sob a visão de Euclides da Cunha, percebemos uma descrição detalhada de todo o espaço, evidenciando todas as características do lugar, do clima e seca tão marcantes no cenário do semiárido nordestino. Essa descrição juntamente com os fatos da Guerra de Canudos informam o romance de Márai, embora o escritor húngaro apresente uma proposta através de um estilo narrativo diferente daquele de Euclides da Cunha. Portanto, objetivamos com este trabalho verificar ambas as semelhanças e diferenças entre as obras analisadas à luz das discussões teóricas concernentes à intertextualidade e literatura comparada. Além disso, é também nosso objetivo contribuir para o debate acerca do cruzamento de olhares e experiências literárias entre as literaturas européia e brasileira, e como a nossa literatura considerada “jovem”, ultrapassando todas as fronteiras, pode influenciar na produção de uma obra germinada no contexto europeu.
Palavras-chave: LITERATURA COMPARADA, LITERATURA BRASILEIRA, LITERATURA HÚNGARA, RELAÇÃO INTERTEXTUAL
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