Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
TRAVESSIAS: MUSICALIDADE NA POESIA DE WILLIAM BLAKE A MELOPOÉTICA COMO SUPORTE DE ANÁLISE EM POEMAS DE CANÇÕES DA INOCÊNCIA E DA EXPERIÊNCIA
RAQUEL LACERDA CLEMENTE PEREIRA, MARIA DA CONCEIÇÃO VINCIPROVA FONSECA
Desde a Antiguidade Clássica, as artes foram entendidas como complementares: a poesia, a música, a dança, a pintura e o teatro eram estudados, apresentados e fruidos em um mesmo contexto. A inter-relação entre as artes sempre foi de grande interesse entre os estudiosos do fenômeno estético. Há estudos indicando que poesia e música, artes-irmãs, só foram se separar depois de muito tempo, após a invenção da escrita e, sobretudo, da imprensa. Com o aumento do conhecimento e a instituição das cadeiras acadêmicas, as artes foram se dividindo e ocupando espaços separados, devido a razões heurísticas de organização acadêmica, entre outras. Contudo, tanto a poesia quanto a música guardam resquícios uma da outra. Atualmente, a complexidade do conhecimento levou à percepção de que os estudos precisam ter limites plásticos, flexíveis, de modo a permitir melhor compreensão do objeto estudado, que nunca estará totalmente isolado dentro de limites rígidos, mas apresenta interfaces com outros saberes. Nas últimas décadas a interdisciplinaridade teve um impacto profundo sobre os estudos humanísticos, o que estimulou críticas inovadoras. Como resultado, estudiosos e críticos começaram a investigar a validade das premissas disciplinares tradicionais, reformulando objetivos e tendências interpretativas de suas próprias disciplinas em relação a outros campos, cruzando, assim, as fronteiras disciplinares. O reconhecimento dessas ligações permite dar conta da realidade a ser investigada, que outrossim ficaria confinada à visão possível pelo ângulo de observação oferecido por um determinado campo de conhecimento. Trabalhando na temática da convergência entre as artes, especificamente entre poesia e música, este trabalho tem por objeto de estudo a musicalidade na poesia de William Blake, visando investigar os motivos pelos quais essa poesia tem sido musicada em diferentes períodos e estilos. Para tal foi feita uma análise de poemas selecionados das Canções da Inocência e Canções da Experiência, seguindo parâmetros definidos pela Melopoética, pressuposto teórico que aproxima o discurso literário do discurso musical. Na análise dos poemas de Blake foram traçados paralelos entre música e poesia, de modo a permitir uma reflexão sobre o que poderá ter promovido a travessia de aproximação entre aquelas artes, fato que tem levado a obra de Blake a viajar por tempo e espaço, saindo da Inglaterra do século XVIII para inspirar compositores e/ou poetas dos mais diversos gêneros e épocas, vindo para os Estados Unidos com The Doors e aqui para o Brasil com Vinicius de Moraes, entre outros. Os resultados evidenciam o entrelaçamento entre poesia e música na obra investigada, identificando as características que favoreceram esse encontro. Nota-se a multiplicidade de estilos e formas que também são utilizados numa composição musical, bem como os ritmos de seus versos e os temas por ele abordados Daí a facilidade em utilizar, como exemplo e/ou inspiração, os poemas do poeta de maneira criativa. Finalmente, o trabalho abre portas para outros estudos semelhantes com o uso dos conceitos da Melopoética.
Palavras-chave: MÚSICA, POESIA, MELOPOÉTICA, WILLIAM BLAKE
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