Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ARIANO SUASSUNA E O RESGATE DE UM GÊNERO MEDIEVAL: TRADIÇÃO E RENOVAÇÃO DA FARSA
MARICÉLIA NUNES DOS SANTOS, LOURDES KAMINSKI ALVES
Nosso estudo consiste na leitura da peça Farsa da boa preguiça, escrita pelo brasileiro Ariano Suassuna, publicada em 1960 e encenada no ano seguinte no Teatro Popular do Nordeste (Recife), com especial atenção para a constituição do gênero farsa. Tendo em vista que o dramaturgo em questão possui uma clara intenção de dar ênfase a uma produção artística que valorize a cultura popular nordestina e, de modo mais amplo, a brasileira, interessa-nos entender a peça que tomamos como corpus deste estudo considerando o processo de ressignificação a que Ariano Suassuna submete o gênero farsa, cuja origem está associada ao período medieval e ao espaço europeu. Ainda que no momento de criação e encenação dessa obra em específico o autor não tivesse trazido a público a sua proposta de arte armorial, nota-se nela, seja explicitado nas rubricas, seja pela escolha dos temas e demais elementos constitutivos da fábula, a nítida presença de uma proposta de produção artística intimamente vinculada à valorização da cultura popular. É esse o norte que o escritor brasileiro assumiu, logo ao início da carreira, para suas produções artísticas e que defendeu ao longo de toda sua vida como crítico comprometido com uma escrita que resgata as bases da cultura popular, seja na literatura de cordel, seja naquilo que lhe podem oferecer outros escritores, como é o caso de Gil Vicente entre tantos outros. Tal procedimento, no caso específico de Farsa da boa preguiça, se explicita no fato de que tenha, simultaneamente, recorrido a temas já abordados em outras peças de mamulengo ou em contos populares, o que denota sua preocupação com o resgate e a manutenção desses gêneros fartamente produzidos na literatura oral nordestina, fazendo uso de uma estrutura farsesca, cuja origem remonta à Europa medieval. Na concepção do autor, o potencial dos seus conterrâneos demanda o passeio pela tradição, não para reproduzir o que já há, mas para, a partir dali, produzir o novo. A produção artística, para ele, se dá a partir do diálogo entre a cultura herdada de outros povos e a cultura popular – que no seu caso está intimamente associada ao romanceiro popular nordestino. Da mesma forma, o teatro é visto como o diálogo dos contrários, à semelhança do próprio contexto social de produção. Entendemos que, justamente nessa vivência harmônica dos contrários, que se juntam para a construção de sentidos compartilhados, é que se faz possível a manutenção do “mais profundo cômico”, qual seja, o cômico ambivalente de que trata Bakhtin (1999).
Palavras-chave: FARSA, ARIANO SUASSUNA, CÔMICO AMBIVALENTE, CULTURA POPULAR
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