A linguagem poética de Manoel de Barros destaca-se, entre outros aspectos, pela originalidade na escolha dos paradigmas lexicais que servem à composição imagética. O sema da inferioridade, por exemplo, mostra-se uma fonte primordial ao projeto estético do poeta, de modo que os versos que integram sua obra empilham um amontoado de elementos inúteis, ínfimos e sem valor. Apropriando-se do sema em questão, Barros realiza um trabalho minucioso de transfiguração poética dos itens lexicais que o constituem, ou seja, dos itens cuja carga semântica convencional vincula-se ao descarte ou rejeição no âmbito da sociedade de consumo. Diante disso, pensamos que o poeta se posiciona contrariamente à ordem estabelecida pelas convenções que orientam tal sociedade, uma vez que propõe uma exaltação do inútil, uma proposição do gratuito, isto é, a reposição de valor ao que, pelo menos aparentemente, não tem mais valor. A lógica da sociedade de consumo apregoa o desapego, e, ao estimular a aquisição desenfreada de bens, objetos e serviços, confere um caráter de brevidade e limite à utilidade das coisas. Em claro e pleno exercício de insubmissão e resistência a esse sistema, Manoel de Barros difunde o afeto pelo ínfimo, defendendo e promovendo um resgate daquilo que foi posto à margem.
Palavras-chave: Manoel de Barros. Metalinguagem. Modernidade lírica. Sociedade de consumo