Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
UM OLHAR ESTÉTICO PARA A EXPRESSÃO POÉTICA NA CANTORIA DE VIOLA: MOVÊNCIAS E PERFORMANCE DA POESIA DE TRADIÇÃO ORAL.
MARCELO VIEIRA DA NOBREGA, BELIZA AUREA DE ARRUDA MELLO
A expressão artística do repentista de viola, em cena, – de tradição essencialmente oral - é linguagem performatizada, oralidade, tradução da palavra, letra sacralizada, que emana de um corpo, em um cenário enunciativo, segundo Benveniste (2003), e que depende da voz – extensão desse corpo, segundo Zumthor (2007), e ‘matéria sonora expressiva, expressão, tecido audível e visível’ no dizer de Hegel, atualizado por Bosi (2004) – para que possa fazer sentido, enquanto signo que é. Esta expressão desaliena e reconcilia o homem com o mundo, além de dar sentido à vida cotidiana e o identificar como porta da voz que se entroniza no corpo, segundo Zumthor (2007). Na perspectiva fenomenológica de Bachelard (1993) a expressão artística é o próprio ato criador, imagem poética repentina, fato singular, que emerge de uma consciência como um produto direto da alma, esta, segundo este pensador, imortal, indelével, ponto onde tudo se origina e adquire sentido, potência inicial da poesia. Jamais se resumiria a qualquer ato puramente racional, embora se ‘racionalize’ através de uma forma - o repente de viola - em seus vários gêneros, que vão das sextilhas às décimas. Neste ponto, Platão, no Íon, ao tratar da origem da força criadora do poético, a dissocia completamente do ato da razão, a ponto de afirmar que enquanto possuidor da faculdade da razão nenhum ser humano é capaz de fazer obra poética. Para Bosi (2004), por sua vez, a expressão artística pressupõe uma fonte motivadora de energia interna, carreada de uma intenção, força criadora; e uma forma que a exprime, externa, e se materializada no repente de viola. A partir deste paradigma o signo, enquanto palavra traduzida no ato performatizado - que une significante, isto é, uma imagem, efeito de sentido final gerado a partir de uma forma sensível, acústico-visual; e o significado, isto é, a ideia que tal imagem pode suscitar na plateia – é força criadora de alegrias, angústias, impressões e significações as mais diversas reveladas à plateia presente. Na cantoria de viola a relação inusitada entre som, palavras e conceitos, todos mediados pelos baiões de viola – intercaladores de estrofes – de repente, pode ser o suficiente para suscitar significados inimagináveis à plateia. É neste foco de análise que se concentra este trabalho: investigar como ocorre o fenômeno criador da poesia de tradição oral, suas motivações, bem como as impressões múltiplas geradas na plateia que dialoga com estes poetas, enquanto gênero marcantemente oral, e tido pelo cânone como de borda. Assim, Pode parecer uma desrazão em um simpósio de literatura que sacraliza a letra propor-se uma temática das poéticas das oralidades, que acentua uma poiesis das tradições antigas, provindas das culturas pré-industriais. Entretanto, isto significa relativizar, quem sabe, romper com os (pré)conceitos oriundos de uma bipolaridade que engendra tensões entre cultura hegemônica e culturas subalternas
Palavras-chave: Cantoria de viola. Tradição oral. Performance. Expressão poética
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