L’élégance du Hérisson de Muriel Barbery (2006) teve sua transmutação para o cinema Le Hérisson (2009) realizada por Mona Achache. As histórias da concierge Renée Michel e da pré-adolescente Paloma Josse se cruzam por habitarem o mesmo prédio, porém em condições muito distintas. Renée é uma senhora de 54 anos que cuida de um condomínio de ricos em Paris, residência de Paloma, e para onde se mudará Kakoru Ozu. Perpassam essas personagens a visão crítica sobre o mundo de “anorexia afetiva” e uma atmosfera de morte. Mais que do que a morte do corpo físico em si e seu momento pontual, há uma vivência da existência que espera seu fim. O objetivo desse trabalho é investigar a elaboração desse par de personagens nas obras e como essa criação se relaciona com a linguagem escolhida. As obras aqui em cotejo buscam realizar constante diálogo entre artes, assim as referências utilizadas para pesquisa versam sobre as adaptações de obra literárias para o cinema em perspectiva comparada. No romance, temos menções a diversos filmes, à música, pintura e obras literárias. No filme, o diálogo aparece com o desenho e a animação. Há no romance predominância da visão de Renée, inclusive com diálogos com o leitor e reflexões sobre o ato de escrever. As referências de Renée como escritora, são transpostas para Paloma atrás de sua câmera filmadora. No romance, a projeção especular, porém autêntica, é Paloma; já no filme, Sra. Michel é o resultado do olhar da menina que procura ver além dos espinhos daquele tão elegante ouriço. Assim, o olhar de cada uma das personagens, dentro dos limites e possibilidades da linguagem escolhida, tem papel central nas duas obras.
Palavras-chave: Literatura Francesa Contemporânea. L’élégance du Hérisson. Le Hérisson. Cinema. Transmutação