Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
O MESMO, O DIFERENTE: CONVERSA INFINITA NA LÍRICA DE MANOEL DE BARROS
VANDERLUCE MOREIRA MACHADO OLIVEIRA, MADALENA MACHADO
Neste trabalho apresentaremos uma leitura crítica da lírica do poeta mato-grossense Manoel de Barros (Cuiabá 1916 – Campo Grande 2014). Depreendemos que este autor emprega a repetição/ reescritura de suas primeiras criações líricas, mais especificamente do seu livro inaugural Poemas concebidos sem pecado (1937) no seu corpus maduro, levando em consideração suas produções a partir da década de oitenta, com a publicação do livro Arranjos para assobio, e que se estendeu até sua última publicação Escritos em verbal de ave (2013), livros de despedida do poeta, no qual o sujeito poético despede-se do personagem mais conhecido do escritor, o vaga mundo Bernardo da Mata. Entendemos que este recurso faz parte de seu procedimento estético de criação. Sendo assim, reencena versos, personagens, o menino, o mendigo, o pássaro, o motivo, palavras do campo semântico da natureza, água, pedra, rio, lesma, ritmo, dentre outros. Ainda que fale do mesmo, para este autor não é o ato de dizer que importa, mas redizer de si e do outro, e neste redizer, dizer ainda uma primeira vez, “Repetir, repetir até ficar diferente”– uma conversa infinita. Bosi (2000) no texto “Poesia - Resistência” afirma que o poeta moderno perdeu a capacidade de nomear por isso volta para seu próprio código, qual seja, faz poesia sobre poesia, elemento também recorrente na poética deste autor. Nesta perspetiva, inferimos que as composições poéticas de Barros configuram-se como obra aberta, conforme acepção do semioticista italiano Umberto Eco, pois além de seu caráter de inacabamento, dialoga com outros sistemas semióticos, a exemplo da fotografia, e da pintura – há poemas que apresentam um nível tão elaborado de imagens poéticas, em um gesto de praticamente emudecer o verso e ressaltar seu caráter imagético. Ademais, este ato possibilita várias possibilidades de leituras. Este autor é acima de tudo um criador de sentidos, artesão das palavras matéria e corpo da poesia. Além disso, não se furtou à visão de seu tempo, sua poesia não trata somente do homem integrado à natureza no Pantanal, mas lança um olhar crítico sobre o sentido de ser na sociedade atropelada pelo capitalismo e consumismo, daí sua escolha em lançar o olhar para o diminuído, os desvalidos, idiotas de estrada, a prostituta, o menino e o velho. Nesta leitura, entendemos que Barros colocava a lírica em abertura, em movimento contínuo em busca de sentidos novos, o diferente. O que evidencia que sua lírica não era cópia, mas buscava o devir que segundo ele era o “dom do estilo”. Então, repetir/reescrever para ele era sedimentação de procedimentos estéticos alcançados pela distorção da norma.
Palavras-chave: homologia, procedimento, criação
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