LUCÍLIA PAULA DE AZEVEDO FERREIRA, MARIA PERLA ARAÚJO MORAIS
Este trabalho se propõe analisar, na peça teatral de Martins Pena Os dois ou o inglês maquinista, a situação dos negros escravizados. São representadas na peça, em questão, as relações sociais, atitudes e costumes da sociedade brasileira no século XIX. Vê-se uma sociedade que explora a mão de obra escrava, se utiliza das autoridades para enriquecer a cadeia econômica da escravidão e considera natural esses procedimentos. Com isso, o interesse em obter vantagens ultrapassa os limites do discernimento e da política liberal implementada no Brasil no século XIX. De forma crítica, na peça, Martins Pena registra a conivência com o tráfico de escravos, numa época em que haviam ideais e leis contrárias a isso. No Brasil do século XIX a prática escravista perdurou devido aos lucros que se obtinham com a mão de obra. Graças à corrupção das leis, à falta de fiscalização e à prática de favores, o tráfico de escravos foi encoberto dos ingleses, que pressionavam para a extinção da escravidão. Verifica-se na peça esse cotidiano paradoxal, as mazelas da sociedade brasileira, as relações patriarcais, a ilegalidade do tráfico negreiro e a omissão do Estado. Em suas peças, sob a pena do humor, Martins Pena satiriza os projetos nacionais e a fragilidade do sistema político-social brasileiro do século XIX.
Palavras-chave: Sociedade escravocrata. Liberalismo e escravidão. Martins Pena. Teatro