Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ECOS DA MUSICALIDADE BARROCA NA FICÇÃO DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES: O ESPLENDOR DE PORTUGAL
MARIANA ANDRADE DA CRUZ, SILVIO RENATO JORGE
No presente trabalho, pretendemos analisar o romance O esplendor de Portugal (1997), do romancista contemporâneo português António Lobo Antunes, com o intuito de tecer relações entre o inusual método narrativo autoral, com especial ênfase na presença da tessitura polifônica na obra, e a estrutura musical das peças barrocas, notadamente as de Johann Sebastian Bach. Os procedimentos musicais barrocos valiam-se de ferramentas – tais como o ornamento e o contraponto – que valorizavam, em suma, a flexibilidade de suas composições, propositalmente inclinadas para a liberdade no improviso, ainda que ditada por uma estrutura geométrica rígida. Em O esplendor de Portugal, em sintonia com aquilo que Affonso Romano de Sant'Anna categoriza como "matemágica barroca", a geométrica organização capitular do romance serve de base para o delírio discursivo polifônico encontrado ao longo das páginas. No romance antuniano, as vozes das personagens se alternam em uma estrutura que remete às fugas e contrapontos da musicalidade barroca, enquanto nos é mostrada a dissolução de uma família a partir da figura de três irmãos, Carlos, Rui e Clarisse, que vivem em Lisboa, e da figura da mãe Isilda, que reside na propriedade familiar em Angola e envia cartas a seu filho mais velho – jamais lidas. O texto se divide entre capítulos narrados por Isilda, cobrindo um percurso temporal que vai de 1978 à noite de Natal de 1995, e capítulos narrados por cada um dos seus filhos, estes sempre durante esta última data. Objetivamos analisar o romance em questão sob a ótica do diálogo interartes, entendendo como determinadas técnicas artísticas manifestam-se ora em música, ora em literatura.
Palavras-chave: O esplendor de Portugal. António Lobo Antunes. Música barroca. Literatura contemporânea. Diálogo interartes
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