Propomos um estudo sobre a inter-relação entre a Literatura e a Música com objetivo de buscar respostas ou pelo menos esboçar algumas a respeito dos pontos de contatos e distanciamentos entre essas duas artes. Existe, realmente, uma música verbal na prosa? A escrita em versos é a única que tem musicalidade? Manuel Bandeira é o mais musical de nossos poetas do século XX, como afirma Solange Ribeiro Oliveira? A música é mais propensa à prosa ou ao verso? Perguntas de pesquisa que nascem e procuram respostas plausíveis, o que é justificado pelo fato do vínculo entre Literatura e a Música ser muito antigo. E, por esta razão, ficou registrado ao longo de toda a História da Literatura Ocidental e da Música, na tragédia grega, na poesia medieval cantada pelos trovadores, na adoção de termos técnicos comuns a estas duas artes (encadeamento, tônica, síncope etc), possibilitando entrelaçamentos estéticos, que muitas vezes, fazem-nos indagar onde começa uma e termina a outra. Assim, para realizarmos o presente trabalho a contento, tomamos como referência principal o artigo “Introdução à melopoética: a música na Literatura brasileira, de Solange Ribeiro Oliveira”. Isto porque esta pesquisadora faz uso de olhares de diversas áreas do conhecimento, como filosofia e a semiologia (entre outras) para explicar a estreita ligação que envolve a Literatura e a Música, objetivando nos introduzir a algo específico, à melopoética. Termo cunhado por Steven Paul Scher para nominar a sua teoria que trata, justamente, da “dimensão musical embutida na literatura”. Além disto, o seu texto nos permite, ainda, desvendar a importância do Estruturalismo para as ciências humanas e o “seu equívoco de origem” que impossibilitou a concretização do objetivo primeiro desta corrente teórica: “chegar a uma gramática geral do conhecimento humano”. Assim, em nosso trabalho, apontamos que este “equívoco de origem” está no fato dos adeptos do estruturalismo terem tomado a “concepção de acordes proposta por Rameau” como sendo uma precursora da análise estrutural nas ciências humanas. Ou seja, os estruturalistas adotaram um tipo de análise que diz respeito única e exclusivamente, a uma linguagem não verbal (a música) impondo-a a uma verbal, como a Literatura. Portanto OLIVEIRA (2003) faz uma abordagem geral da relação da Literatura com a Música, como esta que acabamos de comentar, para sustentar a existência da melopoética que, por sua vez, serve de suporte para a sua afirmativa de que o trabalho poético de Manuel Bandeira é o mais musical do século XX no Brasil. Assim, mais uma vez, vamos nos antecipar apresentando, sucintamente, uma reposta a determinada indagação proposta em nosso artigo. Vale ressaltar que todas as indagações e conclusões são pautadas em Wisnik, Eco, Maguel, Tinhorão (entre outros estudiosos) e em toda nossa trajetória profissional e acadêmica nas áreas da Música e Literatura. Desta forma, podemos afirmar que a presença de onomatopeia, aliteração, assonância, consonância não sustenta a argumentação de um poema ser mais musical que outro. Isto porque esses elementos, são exclusivos da linguagem poética, não existe em música que é uma linguagem não verbal. Portanto terminamos, afirmando que a poética de Bandeira só é mais sonora se comparada a outros trabalhos e que mais detalhes e aprofundamentos poderão ser encontrados em nosso trabalho intitulado de A inter-relação da Literatura com a Música: aproximações e distanciamentos.
Palavras-chave: LITERATURA, MELOPOÉTICA, MÚSICA DE PALAVRAS, MÚSICA VERBAL