JOSÉ CARLOS FELIX, PRISCILA CARDOSO DE OLIVEIRA SILVA
O presente trabalho propõe algumas reflexões acerca da relação entre as poéticas orais e tradição literária escrita, destacando como a literatura contemporânea se apropria de textos oriundos da tradição oral e de seus elementos poéticos. Para isso, investigamos o romance As pelejas de Ojuara: o homem que desafiou o Diabo (2006), do escritor Nei Leandro de Castro, já que notamos traços marcantes da poesia oral popular em sua produção. Por meio do exame das marcas da voz poética, procuramos discutir como os elementos da poética oral se incorporam e se inscrevem no tecido narrativo da prosa desse escritor, de modo a assinalar como esse romance em particular reconstitui uma performance de elementos orais em sua estrutura textual, além de converter-se em um suporte de circulação da poesia oral com potencialidades para legitimar identidades e expressões culturais diversas. Nesse sentido, pretende-se examinar de que maneira o romance As Pelejas de Ojuara: O homem que desafiou o Diabo reconstitui, reabilita e, sobretudo, reescreve a performance e os rastros poéticos de uma voz nômade, e marcadamente incógnita, por meio do registro e das convenções da escrita; um processo que não apenas amplia as possibilidades de sentido do texto, conferindo tanto à tradição poética quanto à narrativa dimensões estéticas inauditas, ao mesmo tempo em que coloca em xeque conceitos de obra e autor como instâncias inscritas fora de uma rede complexa de ramificações discursivas e textualidades múltiplas. A metodologia do trabalho consiste em uma abordagem literária interpretativa e comparativa, fundamentada nos estudos culturais e folclóricos, com o objetivo de identificar como as vicissitudes dos processos de apropriação e reescrita no entremeio dos códigos gráficos institucionalizados convencionalmente, fazem emergir a voz, arroladas em suas características identitárias, discursivas e culturais. No que se refere à fundamentação teórica, nos valeremos de incursões aos trabalhos de Frederico Fernandes (2007), Jerusa Pires Ferreira (2003, 1995), Carlos Pacheco (1992), Maria Inês Almeida; Sônia Queiroz (2004).