Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
CONSTRUINDO MATILDE CAMPILHO
OTÁVIO CAMPOS VASCONCELOS FAJARDO, PRISCA RITA AGUSTONI DE ALMEIDA PEREIRA
O objetivo deste trabalho é tomar o ponto de partida para uma pesquisa acerca da obra da poeta Matilde Campilho, levando em conta seu livro de estreia, Jóquei (Lisboa: Tinta da China, 2014), mas também suas produções em vídeo, que apontam para um retorno da voz e, consequentemente, do corpo na poesia. De acordo com Octavio Paz, em “A nova analogia: poesia e tecnologia” (2012), esses novos meios propiciam a volta da poesia a suas origens, ou seja, à oralidade, por conta da possibilidade de se gravar e reproduzir a voz em vários suportes: “Pouco a pouco o signo escrito substituiu a voz humana, e o leitor individual, o grupo: a poesia se transformou numa experiência solitária. Agora voltamos à palavra falada e nos reunimos para escutar os poetas” (PAZ, 2012, p.324). Para tanto, é necessário colocar em evidência o material a ser trabalhado: a “obra” e a “autora”. Como apresenta Foucault em O que é um autor (1997), o que caracteriza uma obra é a presença de vários textos, que são mantidos em unidade pela figura do autor. Mais do que uma designação do sujeito, a função autor é um modo de ser dos discursos que, através desta, recebem certo status e se apresentam para leitura de forma diferente dos discursos ordinários e cotidianos. Através de matérias em jornais de grande circulação no Brasil e em Portugal (Folha de S. Paulo, O Globo, Público) podemos perceber de que modo a função autor Matilde Campilho é construída e como ela influencia nas vendas do livro e da própria poeta. Delimitado esse espaço, apontamos como se apresentam e podem ser lidos os textos ligados por essa classificação. Para isso, temos de liberar a obra do travão Autor, que por muitos anos acompanhou a crítica literária. Suportados por Roland Barthes em “A morte do Autor”, vemos que com o desaparecimento do Autor, a crítica literária tende a perceber o texto não mais uma linha a produzir um sentido único e exclusivo, como se ditado por um Deus, mas sim como um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura – um texto que comporta em si várias vozes e vários textos, que entram em contato sobrepondo-se, excluindo-se, criando uma significação nova quando do encontro, que só se realiza plenamente na leitura. A própria linguagem, como discute Bakhtin em Problemas da poética de Dostoiévski (1963), só existe em relação dialógica entre discursos. Traçar as relações intertextuais em Jóquei, através das discussões de Foucault, Barthes, Bakhtin, Kristeva (Introdução à Semanálise , 1974), entre outros, nos ajudando a perceber de que maneira a poeta utiliza da história enquanto nela se inscreve, é também construir a função autor para a pesquisa; é construir o que viremos a chamar de Matilde Campilho. E definir a função autor, ao discutirmos sobre literatura, é tão importante quanto definir a concepção de língua ao atuar com linguagens.
Palavras-chave: FUNÇÃO AUTOR, HUMANIDADES DIGITAIS, INTERTEXTUALIDADE, MATILDE CAMPILHO
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