ELOISE PORTO FERREIRA, VERA LÚCIA FOLLAIN DE FIGUEIREDO
Navegar é preciso, viver não é preciso . No início do século XXI, navegar é o verbo, navegamos todos na internet. A presente comunicação pretende investigar como a autoria se configura na contemporaneidade, perante o advento das novas tecnologias. Analisaremos um fenômeno que parece se atualizar com os novos tempos: o fortalecimento da figura do autor nos meios virtuais, especialmente nas redes sociais, o que pode nos sugerir uma “ressurreição do autor”. Esse fortalecimento passa pela criação da persona do autor em ambiente virtual, onde tudo parece ser contaminado, pois um único suporte – a tela do computador – é o espaço tanto da comunicação de informações consideradas reais quanto da ficção. O que chamamos de autor? A presença constante deste e o seu nome parecem ser peças fundamentais de divulgação e comercialização das obras no mercado editorial atual. Ao retomarmos a função autor, tal como definida por Foucault, podemos ponderar que, hoje, vivenciamos uma espécie de tentativa de atrelamento do sujeito empírico à função autor, para fins mercadológicos, ou seja, o mercado ficcionaliza esse sujeito empírico para melhor vendê-lo, construindo sua personagem midiática – o que temos, portanto, enquanto imagem do autor na mídia (e que “compramos” em uma livraria) seria uma espécie de ficcionalização de seu sujeito empírico atrelada à sua função autor, justamente em uma época em que encontramos, não por coincidência, debates sobre a perda da “aura” do objeto artístico com a consequente elevação do próprio artista. Nesse contexto, poderíamos imaginar que a personagem midiática do autor talvez ocupe esse lugar que antes era destinado à obra em si. A personagem midiática do autor, que fortalece seu nome na capa, pode responder, afinal de contas, pelas vendas de sua obra: na atualidade, os leitores compram muito mais do que livros, compram com eles a imagem dos autores que nos é construída pelo mercado e fornecida pela mídia. Essa junção entre “pessoa” e obra, que aparece especialmente quando analisamos entrevistas concedidas pelos autores, além de perfis em redes sociais, é o que parece emergir quando levamos em consideração o processo de criação desse autor personagem, que possui já feições de celebridade. A construção desses perfis parece levar em consideração a tentativa de venda da imagem do autor, situando-a em um primeiro plano. Quando o leitor acompanha a “vida” de um autor através da internet, portanto, é previsível que ele confunda o que é do campo da função autor com o que é do campo do sujeito empírico – efeito esperado pela estratégia publicitária, pois aquilo que pode ser tomado como “real” tem garantido sucesso de para o mercado. O nome do autor vende o livro, ele aparece tanto em feiras literárias como em redes sociais, e sua presença física, sua vida e suas opiniões fazem parte do espetáculo literário de promoção da obra.
Palavras-chave: AUTORIA, NOVAS TECNOLOGIAS, FUNÇÃO AUTOR, MÍDIA