Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
OS VILÕES DA GUERRA - ESQUECIMENTO E A HIERARQUIA DO PODER EM "VALSA COM BASHIR - UMA HISTÓRIA DA GUERRA DO LÍBANO
THALLITA MAYRA SOARES FERNANDES, ANDERSON BASTOS MARTINS
Ari Folman descreve em "Valsa com Bashir- Uma história da guerra do Líbano" a experiência da guerra do Líbano, quando soldados israelenses, em Beirute, e membros da milícia cristã invadiram campos de refugiados e deram início a um massacre de centenas de palestinos. A graphic novel é protagonizada por um ex- soldado atormentado por pesadelos frequentes, que passa a questionar a própria experiência de guerra e que busca na coletividade da memória de outros combatentes uma rememoração individual do dia do genocídio. O ex-combatente tenta desvendar o motivo que o impossibilita relembrar a experiência da guerra e procura um amigo psiquiatra, que explica que o esquecimento pode ter ocorrido por culpa,uma vez que ele disparou os sinalizadores para iluminar o cenário onde ocorreram as morte. Para se justificar o personagem utiliza as memórias de guerra do pai, explicando como este tipo de conflito sempre esteve presente em sua vida, de forma a parecer lógica a sua participação no incidente ou quando ironicamente, jovens jogam videogames de guerra enquanto as questões de guerrilha ficam suspensas. A obra permite uma minuciosa investigação sobre a inconfiável natureza da memória e, sobretudo, denuncia a estupidez das guerras e aponta as questões do apagamento da memória além de um trauma, atingindo relações com um poder normalizador, capaz de adestrar e fabricar uma nova subjetividade em prol da idealização e formação de uma sociedade massificada, regida por interesses individuais, que visam o progresso pessoal, que podem levar o sujeito a obter um cargo mais relevante em sua carreira. Hannah Arendt ao tratar da execução de Eichmann, disserta sobre o totalitarismo e a irreflexão como os culpados pelos massacres administrativos, em que o sujeito não se percebe como criminoso, pois não percebe a dimensão do mal que estava causando. Tanto Eichmann quanto o protagonista do livro estavam seguindo ordens superiores e seriam punidos até mesmo com a morte, caso desrespeitassem as regras. Para Arendt o ato de matar a individualidade do homem equivale destruir do sujeito a sua espontaneidade, permitindo que reste apenas uma marionete com rosto de homem, ou seja, um ser totalmente condicionado, previsível e coniventes com ações sobre-humanas. A condição imposta a esses sujeitos coloca em debate a transgressão dos direitos humanos e a dificuldade em conceituar as atitudes desses homens, subordinados a um poder superior, como criminosas. Assim, nos leva a pensar as questões da irrupção do mal na natureza humana dentro de um sistema político e religioso como os causadores do mal. Segundo Foucault a vida tornou-se o foco do poder: o homem em consonância ao pensamento de Hobbes, começa a destruir a si mesmo. Tampouco o ambiente biopolítico, que se responsabiliza pela proteção da vida, é capaz de diminuir a produção da morte, uma vez que a reconfiguração dos cidadãos em consumidores, consolidou uma política da administração das necessidades vitais inseridas no ciclo de produção e consumo, e as relações éticas tornaram-se originárias de necessidades e interesses humanos, configurando a corrupção como configuração dos atos individuais e grupais.
Palavras-chave: MASSACRE, PODER, VILÃO, ESQUECIMENTO
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