Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
EDGAR ALLAN POE E AS TRÊS FACES DO CRIME
MARTA MARIA RODRIGUEZ NEBIAS, FLÁVIO MARTINS CARNEIRO
Os estudiosos consideram que Edgar Allan Poe foi o precursor da ficção policial. Geralmente, esse gênero narrativo se estrutura a partir de um crime que, na maior parte das vezes, é um assassinato, mas também pode ser um roubo ou um rapto. Assim, a trama constrói-se em torno de três elementos fundamentais: criminoso, vítima e detetive. A dicotomia herói/vilão que constitui o romance de aventuras é substituída, no romance policial, pela dicotomia detetive/criminoso. Cabe ao detetive encontrar o culpado e restabelecer a ordem que foi rompida após o acometimento do crime. Podemos atrelar o nascimento do gênero policial, no século XIX, a uma série de circunstâncias, como, por exemplo, ao surgimento de uma civilização urbana. O deslocamento de milhares de pessoas do campo para a cidade ocasionado pela Revolução Industrial propiciou o rápido crescimento dos centros urbanos. Em meio a essa massa urbana, em que todos são anônimos, viabiliza-se a figura do criminoso, que se beneficia desse anonimato para se esconder. Com o desenvolvimento da cidade, e em virtude da necessidade de controle sobre as massas, desenvolve-se também a polícia. Surge a figura do investigador, como uma espécie de herói moderno, defensor da sociedade. Também podemos mencionar o desenvolvimento dos jornais, que colocou em cena os relatos de crimes, roubos e assassinatos, reflexos da vida urbana. O criminoso passa então a ser visto como um inimigo social. Tendo por base tais considerações, neste estudo, pretendemos analisar os três contos policiais escritos por Edgar Allan Poe – “Os crimes da Rua Morgue”, “O mistério de Maria Roget” e “A carta roubada” ?, comparando as diferentes faces do crime apresentadas em cada uma das narrativas, e identificando a função do criminoso no gênero policial, além de sua relação com o contexto do século XIX. O primeiro conto, “Os crimes da Rua Morgue”, destaca-se pela selvageria com que o assassinato é cometido, revelando um desfecho fantástico. O segundo baseia-se em um crime verídico que ocorrera em Nova Iorque em 1841 e apresenta uma peculiaridade: ao ficcionalizar o crime, Poe acaba indicando uma solução mais aceitável do que a proposta pelas autoridades da época. O terceiro, por fim, não trata de um crime de morte, mas de um roubo desvendado pelo detetive Dupin. Buscaremos também comprovar que os contos de Poe se enquadram no que Umberto Eco denomina “estrutura da consolação”, em que a trama não deixa conflitos a resolver, ou seja, o bem, representado pelo detetive, sempre vence no final. O crime rompe com a ordem vigente, mas o detetive, ao descobrir o culpado, restitui a ordem perdida.
Palavras-chave: CRIME, EDGAR ALLAN POE, GÊNERO POLICIAL
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