Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
As fronteiras do fantástico em Murilo Rubião
Ana Luzia Santana Rangel (Universidade Federal Fluminense)
A produção literária do escritor mineiro Murilo Rubião (1916-1991), matizada pela presença do fantástico, viabiliza observações diversas a cada nova leitura. As narrativas trazem à tona metamorfoses, multiplicações, ações intermináveis, crescimentos desordenados e outros acontecimentos absurdos e grotescos que remetem ao inexplicável. Tudo isso, segundo Tzvetan Todorov (1939-2017), gera hesitação e incerteza no leitor que é tentado a explicar o inexplicável. A semiótica da cultura, concebida pelo filósofo, historiador e semioticista russo Iúri Lótman (1922-1993) propicia a identificação de conceitos de semiosfera e fronteira entre diferentes culturas e ajuda a compreender o modo como o fantástico atua na prosa de Rubião. Cada semiosfera possui seu “próprio” conteúdo e considera uma outra como “alheia”, “hostil” e até mesmo “perigosa”, sendo a fronteira entre elas um ponto de contato de grande relevância. Nos contos de Murilo Rubião (2016), as fronteiras são atravessadas de maneiras mais diversas. A narrativa conquista a atenção do leitor com acontecimentos triviais e o desconcerta com elementos absurdos. Por vezes, a leitura se inicia com a instalação do fato insólito e, por outras, este vai surgindo aos poucos. A razão é posta à prova, a tensão cresce, desorganiza a ordem aparente e instaura o caos. A compreensão racional é questionada por eventos que se ancoram na irrealidade. O nosso objetivo é realizar uma leitura dos contos O lodo e A fila, exemplificando como ocorre o atravessamento das fronteiras temporal e espacial. Assim, em O lodo, o tempo presente se mescla ao passado ou até é encoberto por ele. A fronteira espacial, presente no conto A fila, é posta em evidência quando o protagonista viaja do campo para a cidade. Em ambos os casos, a travessia espaço-temporal é responsável pela criação do efeito fantástico.
Palavras-chave: Murilo Rubião; literatura fantástica; Iúri Lotman; fronteira; semiosfera
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