CESAR AUGUSTO LÓPEZ NUÑEZ, MYRIAM ÁVILA CORRÊA DE ARAÚJO ÁVILA
O romantismo no Brasil e na América Latina caminhou de mãos dadas com o nascimento do pensamento republicano continental e com a necessidade de estruturar-se uma concepção forte face às metrópoles coloniais. Neste processo se tentou, através das paisagens naturais ou da idealização do aborígene, construir uma mítica acorde ao novo mundo. Porém, o problema da dependência se manteve, porque, entre muitas razões, as perspectivas do mundo se mantinham atadas à episteme monológica do Ocidente. Quer dizer, os processos, aparentemente libertários, reduplicavam o modelo hermenêutico alheio à realidade do terreno, apesar de que este contava com mais de um olhar distinto sobre a organização do mundo. Nesse espectro nos encontramos com um projeto estético-político que tenta quebrar o exotismo do olhar, talvez como o antecedente mais antigo de literatura descolonial. Referimo-nos ao caso de O Guesa e do seu autor, Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade). Neste poema, de caráter épico, a primeira aposta contra a episteme hegemônica foi quebrar sua ordem através de três ângulos. O primeiro seria o mito, como fato matriz da experiência do mundo vigente e com a capacidade de discutir e se relacionar simetricamente com outras míticas como a judaico-cristã, a grega ou a mesopotâmica. O segundo seria a multiplicidade, como princípio identitário, no sentido de que o mundo jamais foi homogêneo e sempre esteve marcado pela diferença, sobretudo, nas terras invadidas pelos europeus. Finalmente, resta o ângulo relativo como prova de que o conhecimento está feito de relações de sentido que podem sempre ser reconvertidas, através dos seus pontos de encontro, para virar alianças de compreensão do mundo. Nossa comunicação apresentará uma leitura da magnum opus através das três arestas descritas e o potencial crítico que expõem ao descentrar uma visão de mundo em prol de uma leitura e experimentação outra do mundo. Teremos como guias teóricos os conceitos desenvolvidos por Gilles Deleuze e Félix Guattari, além dos aportes da antropologia pós-estrutural de Eduardo Viveiros de Castro. Os primeiros como fontes filosóficas do múltiplo e, o segundo, como impulsor de ontologias alheias à Ocidente com possibilidades epistêmicas abertas.
Palavras-chave: ROMANTISMO BRASILEIRO, SOUSÂNDRADE, ESTÉTICA, POLÍTICA