MARLUCI CRISTINA DA SILVA DEMOZZI, VERA LÚCIA DA ROCHA MAQUÊA
O presente artigo se propõe a uma reflexão sobre o uso do relato como forma de afirmação identitária nas obras: Leite Derramado de Chico Buarque e Relato de um certo oriente de Milton Hatoum. Observa-se uma representação da ficção contemporânea que ruma para outros sentidos, ultrapassando de certa forma o universo da história e dos acontecimentos, como se a narrativa servisse de fuga do próprio personagem na tentativa de reconstruir a sua própria identidade a partir do relato de suas experiências permeado pela exploração da memória plural e rompendo as fronteiras existências do eu e do outro. Busca-se também explorar nesses romances as estratégias narrativas cinematográficas que determinam o tempo de forma linear e assim compreender que as escritas de obras como relato de experiências vividas aproximam os leitores de seus escritores e ainda suas obras literárias da sociedade. O desdobramento do narrador que ora usa da realidade e ora da ficção aparenta ser um sinal de que a identidade subjetiva ainda está em discussão. É sentida nessas obras que o próprio eu está em trânsito, aberto às influências do mundo. Assim, os romances também arriscam uma vertente que nos leva a tentar compreender os anseios controversos entre os narradores e personagens. Esses romances são um convite as reflexões sobre a realidade e ao mesmo tempo registro de questões político, histórico, cultural e social que contribuíram para o êxodo encontrado nos personagens durante a narrativa.