Na Bíblia Hebraica, os números são frequentes, e possuem diversas funções e significados, muito além da sua utilização para a simples aritmética. Alguns números se destacam, seja pela sua frequência, seja pelo seu significado ou simbologia. O número cento e vinte é um deles. Além de suas qualidades matemáticas, das quais se destaca o seu grande número de divisores, o número cento e vinte possui qualidades simbólicas singulares, surgindo como uma referência numérica, tanto na Bíblia Hebraica como em outras literaturas antigas, em diversas áreas, como parâmetros da organização humana, para medidas ou contagens de tempo, espaço (áreas ou territórios), peso, pessoas ou animais. Esse número figura no Livro do Gênese como medida de tempo, no momento em que um limite de cento e vinte anos é decretado como expectativa máxima de vida do homem (Gn 6:3). Há um conto sumério extra-bíblico sobre Enlil e Namzitara, no qual a extensão máxima de uma vida humana é fixada, assim como na Bíblia Hebraica, em cento e vinte anos. Esse número também corresponde aos anos de vida do profeta Moisés (Dt 34:7). Além disso, o número cento e vinte está relacionado ao período de cento e vinte anos em que Noé construiu a arca para sobreviver ao dilúvio (Gn 6), aos cento e vinte dias em que Moisés esteve sobre o Monte Sinai em três períodos de quarenta dias cada (Ex 24:12-18, 32:15, 30-31, 34:4, 29), como também ao período de três gerações convencionais de quarenta anos cada, exemplificado pelo pacto de Deus com o povo de Israel: “...guardes todos os Seus estatutos e os Seus preceitos que eu te ordeno – tu, teu filho e o filho de teu filho...” (Dt 6:2). A Bíblia Hebraica pode, então, ser compreendida como um contrato entre Deus e o povo de Israel, com direitos, deveres, recompensas e punições. Portanto, o teor simbólico do número cento e vinte se relaciona com sua subdivisão em três ciclos de quarenta anos cada, representado por uma instituição muito importante do mundo antigo: o contrato, que é celebrado entre três gerações convencionais, para as quais a Bíblia Hebraica atribui a extensão convencional de quarenta anos. E três gerações de quarenta anos representam exatamente cento e vinte anos. Além disso, é costume utilizarmos no hebraico moderno a expressão “ ‘a? mê-’?h w?-‘e?-rîm ”, desejando a alguém que viva até os cento e vinte anos, o que demonstra que o hebraico moderno está calcado em tradições antigas.
Palavras-chave: BÍBLIA HEBRAICA, CENTO E VINTE, GENESIS, NÚMEROS