LIVIA PENEDO JACOB (Universidade do Estado do Rio de Janeiro e FAPERJ)
Nessa comunicação analisaremos como a ficção produzida sobre os povos originários do nosso continente se desenvolveu a partir de inúmeros pré-conceitos fomentados pelos relatos coloniais, conforme documentam os diários de Colombo e a proto-ficção Mundus Novus, por equívoco atribuída a Américo Vespúcio. Se a primeira ideia que se teve da “América” surgiu a partir do que Stephen Zweig (1943) chamou de “comédia de erros”, a plurivocidade de testemunhos produzidos entre os séculos XVI e XVII revela que o “índio” atuou como “argumento antropológico” para a construção do sentido de alteridade no pensamento ocidental (MARCONDES, 2012). Essa dependência do outro para a autodefinição das culturas europeias alcança seu apogeu durante o Romantismo, quando a literatura ocidental do Oitocentos alegorizou o nativo em prol dos projetos nacionalistas (BOSI, 1992). Embora os autores modernistas comecem a romper com essa visão (SÁ, 2012), é a revisão contemporânea sobre o conceito das Humanidades que consolida uma nova abordagem do tema, com especial relevo para a representação dos indígenas em romances da segunda metade do século XX, quando passam a ser retratados como vítimas de um sistema colonial corrompido (MACFARLANE; RUFFO, 2016). É também nesse momento que os sujeitos se tornam autores de suas próprias histórias, reivindicando o direito de produzir literatura e de narrar a memória dos horrores coloniais pelo ponto de vista dos vencidos (LEÓN PORTILLA, 1985).
Palavras-chave: Literatura indígena; Colonização; Literatura comparada.