O desencanto é parte fundamental da obra de Etgar Kéret, porque dá conta da falta de sentido dos fatos e daquilo que a crítica israelense chama de retorno ao significado ordinário da vida cotidiana, disse o jornalista brasileiro Diogo Bercito a respeito dos contos de um dos mais populares autores israelenses a quem entrevistou. As mini-narrativas de Kéret, muitas vezes de apenas duas ou três páginas, são histórias compactas, textos pós-modernos na forma de vídeo-clip, descrevendo um episódio, retratando uma determinada situação, abrindo assim uma janela para um mundo surreal e sobre estranhas vidas interiores. O inesperado muitas vezes surge a partir do que parece ser comum e cotidiano. Os contos de Kéret deixam muita coisa inexplicada, flertam com o realismo mágico, com o surrealismo, terminam com um gesto ou uma ideia inacabada. No espírito do pós-modernismo, não há dicotomia entre nível baixo e alto, pop e da cultura clássica, real e imaginário; momentos cômicos se fundem com os de melancolia, episódios sentimentais são antepostos a reflexões sérias e grotescas. Keret também brinca com a linguagem, investiga metáforas e clichês,destaca a inadequação das palavras e às vezes cria o seu próprio vocabulário. Nos contos de Kéret, por meio de uma da escrita ocasionalmente enganosa e leve, corre um desejo urgente de comunicar a realidade israelense a um mundo exterior que insiste em ver tudo sobre o país e seu povo através do prisma da ideologia. Os contos de Kéret fazem parte de uma ampla gama de criação cultural que se assenta sobre sua ficção e a extrapola, atividade em que conta com a colaboração da esposa, Shira Gefffen, ela própria artista e produtora, ilustradores como Rutu Modan e Assaf Hanuca, entre muitos outros, em Israel e em vários países, com os quais editou livros, publicou HQ, lidou com cinematografia, fez apresentações em estações de rádio e públicas. Um dos mais de quarenta filmes de curta-metragem baseados em sua obra foi produzido pela brasileira Silvia Grossmann. Kéret e a esposa trabalharam em conjunto com os criador de arte e o coreógrafo do grupo de Pilobolus na elaboração de Pedalador inconsistente produzido pela companhia de dança americana. Nesta comunicação pretendo abordar a obra literária de Kéret e a sua grande abrangência que se estende pelos campos variados de cinema, teatro, dança e HQ. Kéret é professor de cinema em universidades israelenses.
Palavras-chave: ETGAR KÉRET, LITERATURA HEBRAICA, LITERATURA ISRAELENSE