No anoitecer do dia 01 de junho de 1941, teve início em Bagdá um pogrom que em muito se assemelhou ao que ocorrera três anos antes pelas ruas da Alemanha. Naquela noite, a turba incitada pelo regime pró-nazista de Rashid Ali e com o beneplácito de membros das forças de segurança, espalhou-se pela cidade batendo, destruindo, matando e saqueando a comunidade judaica. Era o início do Farhud, que se prolongou por três dias, e ao cabo dos quais 180 judeus tinham sido assassinados, e outros 50 mil tiveram suas casas e bens saqueados ou destruídos. Este acontecimento deixou a milenar comunidade judaica atônita, pois foi a primeira vez em centenas de anos que ocorrera um ataque de tal magnitude, organizado contra o judaísmo iraquiano. As marcas deste ataque não se apagaram da memória, e as vítimas do mesmo perceberam que seu futuro no país não estava mais seguro. A partir deste acontecimento, teve início a fuga de muitos que começaram a sentir que o cerco contra a comunidade judaica começava a se fechar. Este panorama histórico serve como pano de fundo para o escritor Ezra Tsabani nascido em Israel, porém descendente de uma tradicional família de Bagdá, que em seu primeiro romance Rokemet Hachalomot miBagdad (A bordadeira dos sonhos de Bagdá), confronta o leitor com o drama histórico vivido pela comunidade judaica do país. Sua narrativa transcorre nas coloridas ruelas dos mercados de Bagdá, lugar onde vive Juliet, a protagonista do romance e primogênita da família Dashti que habita no antigo bairro judaico da cidade nos anos 40 do século XX. Juliet, a jovem bordadeira, trabalha arduamente para poder sustentar os membros de sua família que vivem uma realidade de pobreza e opressão. Seus irmãos, Tsalach e Yechezkel, também crescem nas escuras ruelas da cidade, onde paira no ar um tenso clima de suspeita entre a minoria judaica inserida no seio da sociedade muçulmana maior. Os acontecimentos desencadeados pelo Farhud, abriram feridas impossíveis de serem esquecidas ou curadas e incentivaram os judeus a abandonar o Iraque rumo ao estado judaico que estava sendo então almejado. Tsalach, irmão de Juliet, alista-se ao movimento sionista Hechalutz que começara a atuar de forma clandestina no país, e consegue após muitas peripécias, rumar com sua família para Eretz Israel. O romance de Ezra Tsabani confronta o leitor com o declínio e extinção da rica e mais antiga comunidade judaica da diáspora, e com ela para o fim de 2500 anos de presença judaica no Iraque.