Philip Roth é um escritor judeu-americano, neto de imigrantes, cuja literatura é bastante marcada pela sua experiência dupla: o mundo da escola de hebraico e das tradições dos avós, por um lado, e a educação pública e cultura popular americana de outro. Sendo assim, sua obra nasce de uma sensação de identidade dupla: o autor define-se a si mesmo como um judeu americano, um ser hifenizado cuja existência se localiza no potencial conflito entre suas identidades. Desde o início de sua carreira, com os contos de Adeus, Columbus, Roth explorou as diversas possibilidades de existência judaica e os conflitos entre elas. A assimilação e o conflito de lealdade possivelmente proposto pelo encontro das identidades judaica e nacional formam o tema central desses contos. Ao longo de sua carreira, as diversas facetas desses assuntos foram tratadas por ele, assim como sua evolução ao longo do tempo. Em um ensaio chamado Escrevendo Sobre Judeus, Roth coloca a exploração dos paradoxos e conflitos internos da vida judaica como um tema caro e essencial a sua literatura. As diversas possibilidades, muitas vezes irreconciliáveis, e os múltiplos caminhos tomados pelos judeus na contemporaneidade formam o tecido de seus romances. Para tratar desses rompimentos, conflitos e paradoxos da existência judaica, o autor utiliza em diversos de seus romances uma forma labiríntica, em que as identidades de autor e personagem se sobrepõem, borrando as fronteiras entre ficção e realidade. Com esse recurso, Roth alarga seus romances, tornando seus próprios dados biográficos e sua pessoa pública uma espécie de texto. Em Operação Shylock, Roth leva esse recurso ao extremo: o livro possui o subtítulo de “uma confissão” e o coloca em confronto com um duplo que anda por Jerusalém pregando a ideologia do “Diasporismo”, uma proposta para que os judeus deixem Israel e voltem aos países que deixara no Leste Europeu. A partir da premissa absurda e quase surreal, o escritor leva o olhar que sempre jogou sobre o judaísmo americano para um conflito novo: aquele entre o judaísmo israelense e o da Diáspora. Para tanto, Operação Shylock coloca em cena toda a história judaica: do Shylock de Shakespeare, ao conflito israelense-palestino, passando pelo Holocausto e, principalmente, as formas textuais através das quais os judeus representaram e foram representados. Philip Roth, além de seu duplo, encontra diversos outros avessos e possibilidades de si mesmo como o ex-colega palestino e o escritor Aharon Appelfeld, personagem do romance. Durante esses encontros, e o conflito com seu duplo, sua identidade se esfacela para ser reconstruída, como um judeu contemporâneo, ciente e engajado em todos esses conflitos. Essa apresentação se propõe a fazer uma breve análise do romance, mapeando os diversos conflitos e possibilidades que ele apresenta e a maneira pela qual Philip Roth, através de sua abordagem fluída e pós-moderna da identidade, representa conflitos da vida judaica contemporânea.
Palavras-chave: PHILIP ROTH, LITERATURA AMERICANA, LITERATURA JUDAICA, OPERAÇÃO SHYLOCK