O romance "A mulher foge", do autor contemporâneo israelense David Grossman, publicado originalmente em 2006 e considerado pelos críticos literários o texto mais anti-guerra do país, narra a história de Orah e seu filho Ofer. Orah é uma mulher na faixa dos cinquenta anos de idade que, por temer receber uma má notícia sobre seu filho, alistado no exército de Israel, decide fugir em direção ao norte do país. Ela não viaja sozinha, mas com Avram, seu atual amigo, amor de juventude e, por acaso, pai de Ofer, a quem conta tudo sobre a vida do jovem, desde seu nascimento até o ingresso nas forças armadas. Enquanto Orah parte por tempo indeterminado com Avram, a narrativa da vida em família, juntamente com outro filho e marido, também é estratégia da qual ela se vale para insuflar cada vez mais fôlego a Ofer. Dessa forma, o próprio filho pode não estar presente, mas a palavra sobre ele é capaz de preencher sua ausência, fazendo com que de algum modo esteja a salvo. Na visão da mãe, narrar é um recurso de que dispõe para assegurar a sobrevivência do filho. O presente trabalho propõe, portanto, uma reflexão sobre a dialética da fuga e da palavra como formas de resistência adotadas pela personagem principal da narrativa de David Grossman. Através de um olhar hermenêutico, objetiva-se pensar o movimento de partida da mãe não como puro escapismo, no sentido de evitar o confronto com a realidade devastadora, mas como modo inequívoco de resistir. É ainda objeto de estudo desta pesquisa o papel da linguagem no romance, que através da palavra falada, também não se configura como mera substituição da presença física do filho, mas sim enquanto animus, ou seja, enquanto força geradora da vida que não há. A personagem Orah também será sensivelmente observada na análise, uma vez que se encontra na linha de frente do texto. Qual seu papel para o desenvolvimento da narrativa e qual a relevância dessa figura feminina serão algumas das perguntas norteadoras desta proposta. Sua condição dilacerante proporcionará uma reflexão acerca da dura realidade de viver em um país que protagoniza um intermitente estado de guerra. Não obstante, as relações que estabelece com outras personagens da obra também serão brevemente abordadas, pois constituem significativas representações das relações complexas que integram a sociedade israelense, no que tange a aspectos políticos e históricos. Por fim, a pesquisa também tecerá algumas considerações sobre a configuração do romance, seus elementos e principais características.
Palavras-chave: LITERATURA ISRAELENSE, GUERRA, FORMAS DE RESISTÊNCIA, DAVID GROSSMAN