Os Livros de Rute e Ester fazem parte das Cinco Meguilot (“rolos”). Na Bíblia Hebraica estão reunidas no terceiro grupo designado por Ketuvim (“Escritos”) e pertencem ao ciclo de leitura sinagogal. O Livro de Rute data da época pós-exílica, mais provavelmente do período persa (séculos VI-V a.E.C.). A maioria dos estudiosos concorda que o redator é um deuteronomista. Os livros de Esdras e Neemias constituem as principais documentações bíblicas para o estudo do quadro histórico deste período: as reformas de Esdras (Esd 7,10; 7,12-22; 9,2; 10,15) e a crise agrária e as reformas de Neemias (Ne 5,1-5; 5,7-13; 5,14-15). Outra documentação de suporte são os textos dos profetas Ageu e Zacarias. O Livro de Rute seria de certa forma uma resposta às reformas iniciadas por Esdras e Neemias e um convite ao leitor a uma análise mais crítica do panorama histórico, socioeconômico e religioso. O Livro de Rute reúne três elementos fundamentais sobre as questões sociais e uma tríplice categoria protegida por Deus: Rute é uma mulher e uma mulher estrangeira, pobre e viúva. O Livro de Ester é uma narrativa, em forma de novela, que aborda a vida judaica num período de dominação estrangeira, em especial quando os judeus vivem fora de Judá – ou seja, no exterior. A redação do texto hebraico data em torno de 350 a.E.C., antes do Império Persa ter sido conquistado por Alexandre Magno (333 a.E.C.). A leitura do texto de Ester permite propor paralelos interessantes com o Livro do Êxodo. Pois, ambos tem como meta a luta pela verdade e justiça a fim de que o povo (judeu) possa sobreviver. Outro paralelismo perceptível é com a literatura sapiencial. No Livro de Provérbios é possível destacar o tema da humilhação do injusto e da exaltação do inocente. No mais, outras lições sapienciais como os conselhos voltados para a confiança, a solidariedade, a ação cautelosa, o discernimento prudente que cria estratégias possíveis e eficazes podem ser observadas. Em outra perspectiva, o ponto de ligação importante que faz de Ester um livro que preconiza o Eclesiástico, Daniel, Judite e Macabeus é o zelo pela identidade cultural e religiosa. As personagens Rute e Ester, como protagonistas dos livros que levam seus respectivos nomes, destacam a ação da mulher no resgate de sua dignidade e na participação das lutas libertárias do seu povo. O olhar mais detalhado sobre os dois livros despertam questões sobre o protagonismo feminino nas Cinco Meguilot. Este estudo examina as relações entre discurso e poder nos livros de Rute e Ester. De tal forma, procuramos evidenciar a realidade e o significado da experiência feminina e as questões sociais que os livros bíblicos citados refletem. Tais questões são relevantes para compreender o papel da mulher na Bíblia e as ressonâncias para os leitores contemporâneos da Bíblia sobre as questões em torno da mulher. Permitem novas interrogações e descobertas e levantam questões sobre a posição da mulher na sociedade da época e nos dias atuais.
Palavras-chave: LIVRO DE RUTE, LIVRO DE ESTER, BÍBLIA HEBRAICA, BÍBLIA E MULHER