Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
As Autonarrativas de Maria Pilla e Petra Costa como atos políticos de contestação aos discursos golpistas de abril de 1964 e abril de 2016
Isis Duarte Fernandes (Universidade Federal da Bahia), Rachel Esteves Lima (Universidade Federal da Bahia)
Este trabalho se propõe a questionar e problematizar as linhas e estratégias narrativas de Petra Costa em Democracia em Vertigem e de Maria Pilla em Volto semana que vem como autonarrativas dos golpes, investigando, ainda, seus engajamentos políticos e seus discursos de protesto e contestação através da literatura e do cinema. Lançando mão dos conceitos de memória e verdade como operadores críticos, busco estabelecer uma relação entre as obras em suas retomadas das vozes silenciadas pela tradição autocrática brasileira (em específico, no período que sucedeu ao golpe midiático-civil-militar de 1964 e no que compreendeu a articulação e a concretização do golpe midiático-civil-parlamentar de 2016). Nesse contexto, Democracia em Vertigem insere-se, pelo seu leitmotif sócio-estético e pela subjetividade narrativa manifesta, em um corpus de construção da memória do golpe e em um movimento de reflexão acerca do recrudescimento do autoritarismo no horizonte brasileiro dos afetos políticos. Da mesma forma, Volto semana que vem se inscreve em uma longa e hoje reconhecida tradição de mulheres que (re)emergem literariamente após os anos de chumbo, seja através das memórias das sobreviventes, seja por meio das histórias contadas pelas descendentes de militantes (DI EUGENIO, 2020). As autoras interseccionam, assim, tal como quem traça uma arqueologia do golpe de 2016, a herança ditatorial e o novo avanço do protofascismo. Demonstro, por fim, como tais narrativas não se resumem a registrar fatos históricos ou a descrever as agruras e violências enfrentadas pelos movimentos sociais, mas se propõem, como obras esteticamente multifacetadas, a reconstruir, a partir da ótica da subjetividade recalcada e traumatizada, os caminhos da memória-reflexão. Esse processo tenta tirar sentido do fantasma golpista incrustado no imaginário cultural do Brasil-nação, a fim de desvelar o inaudito histórico e, assim, quebrar sua corrente de padrões atávicos de opressão, injustiça social e autoritarismo.
Palavras-chave: Democracia; memória; autonarrativa; ditadura militar; golpe.
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