A infância é considerada como uma fase de aprendizagem e construção da subjetividade. No séc. XIX, ela tornou-se objeto de estudo em várias áreas, pois as crianças passaram a ocupar um lugar central na família, tornando-se necessário e vantajoso investir em uma educação para os infantes. A importância dada a esta fase tinha no abandono e na orfandade a sua contraface mais visível e problemática. Segundo Philippe Ariès, o abandono era visto como uma prática comum, assim como práticas disciplinares carregadas de violência. As ações vivenciadas pelas categorias postas acima também encontraram eco na literatura, que registra várias tramas narrativas insufladas pelo estado de abandono e solidão de crianças. Esta pesquisa tem como objetivo aproximar as obras Capitães da Areia, do escritor brasileiro Jorge Amado, e Peter e Wendy, do escocês James Barrie, tendo como foco o abandono e as particularidades da infância que são apresentadas nas narrativas. Para a realização desta pesquisa, serão utilizados os estudos sobre infância de Eliane Yunes e de Regina Zilberman, a pesquisa histórica de Philippe Ariès, como também um estudo comparativo sobre as obras citadas de Maura Böttcher Curvello. Pretende-se perceber o abandono não somente como a via que aproxima essas obras, mas também como uma consequência para o teor imaginativo que se faz presente em toda a história de Peter e Wendy e que se apresenta como fuga da realidade em Capitães da Areia.