Ninguém Matou Suhura, Estórias que ilustram a história, obra da moçambicana Lília Momplé, contém cinco contos que abordam questões do cotidiano, em especial aqueles silenciados pela história oficial. O subtítulo da obra explicita a relação entre as micronarrativas e a macronarrativa histórica e determina o lugar a partir do qual se pretende enunciar a história: a autora se coloca do lado dos oprimidos para a partir das histórias do cotidiano (re)contar a história do país. Propomos uma análise pelo viés dos direitos humanos, destacando e problematizando os pilares da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade, cujos princípios universalizantes foram sucessivamente frustrados pelas iniciativas colonizadoras. A análise dos contos, nesse sentido, triparte-se: sob o viés da liberdade, problematizamos o trabalho forçado nas plantações de sisal, nas minas e o trabalho doméstico escravizado nos contos “Aconteceu em Saua-Saua” e “Caniço”; no pilar da igualdade, no conto “O baile de Celina”, abordamos o acesso à educação igualitária, já que durante a colonização, os negros recebiam uma educação rudimentar, voltada para trabalhos corporais; no pilar da fraternidade analisamos, no conto “Ninguém matou Suhura”, a representação multiétnica da sociedade moçambicana, levando em conta não somente as diferentes nacionalidades que residiam em Moçambique durante a colonização portuguesa, mas, sobretudo a desumanidade com que os portugueses subjugaram os moçambicanos no aspecto físico, intelectual e social. O trabalho diferencia o homem dos outros animais, só o homem transforma a natureza e a utiliza ao seu favor e, portanto o trabalho deveria ser fonte da auto- realização, caminho para o exercício da liberdade e algo que não aliene o homem. Assim, as relações de trabalho parecem ter sido determinantes para o processo colonizador que a autora desnuda nos contos, marcado pela opressão, segregação e aversão.